quinta-feira, 27 de setembro de 2012

[Tradução] Raindrops

Não costumo postar traduções aqui no blog porque, apesar de serem feitas por mim, não são de minha autoria (eu apenas traduzo). Porém, como nem todo o mundo tem cadastro no Need for Fic e o orkut está uma droga para postar, achei melhor colocar aqui.

Titulo: Raindrops


Autora: White Compass


Tradutora: Polly


Ship: Jate


Categoria: 2ª temporada


Capítulos: one-shot


Completa: Yes (x) No ( )


Classificação: PG-13


Resumo: Kate e Jack estão na selva. A combinação de uma briga com uma chuva torrencial irá fazê-los se aproximarem ou ficarem mais afastados?


Fic original em Inglês:



Havia acontecido novamente.



Alguém havia desaparecido e Jack sentiu que era sua responsabilidade se certificar de que a pessoa iria voltar ao acampamento sem danos. Kate o viu se retirar para a selva e o seguiu para convencê-lo de que não era uma boa ideia simplesmente ir e vagar, sem uma pista do que tinha acontecido e como sempre, Jack não a ouviu.



Logo, ela decidiu segui-lo. Jack era um ótimo médico, mas para falar a verdade, ele não tinha habilidade especial alguma no campo de rastreamento.



"Jack, tem certeza de que ele foi por esse caminho?" ela perguntou, procurando ao redor por qualquer sinal de que alguma pessoa estivesse ali.



"Ele veio por este caminho" ele respondeu teimosamente.



"Não há nenhum rastro... e vai escurecer logo..." ela disse, ainda olhando ao redor.



"Você não precisa vir se não quiser, Kate" ele disse e se retirou novamente.



"Hei, qual o problema contigo?'



Ele não respondeu. Apenas continuou andando.



"Hei Jack, estou falando com você!"



Ultimamente ela não tem conseguido mais estar próxima dele. Tem horas que ele parece estar bravo com ela, não sendo capaz sequer de tê-la por perto, outras vezes, ele é simplesmente tão doce quanto poderia ser.



Ele parou se se virou para encará-la, seu rosto a poucas polegadas do dela. Ela parou e apenas ficou ali, como se estivesse petrificada, sem saber o que estava por vir ou o que fazer.



"Você não quis encontrar o Steve, Kate, você só veio junto para me levar de volta e quem se importa com o que irá acontecer com o cara!" ele gritou.



"Hei!" ela gritou de volta "Tudo o que estava dizendo é que é inútil nos perdermos na floresta também. Não há pista para seguir, o que devemos fazer? "



"Claramente voltar, Kate" ele disse sarcasticamente.



Ela ficou parada ali, olhando-o dentro dos olhos.



"Eu vou voltar" Kate declarou e depois de uma longa pausa "por favor, volte comigo"



"Sim, vá. Corre. Você é muito boa nisso!" ela não podia acreditar que ele disse aquilo. Machucou mais que ela esperava e ela ficou parada lá, olhando para ele como uma idiota.



Então tudo aconteceu em um instante, como de costume.



Em um instante, estava calor e ensolarado, no próximo, estava chovendo como se fosse inundar o lugar inteiro e eles estavam ensopados em um instante.



Enquanto Kate queria parar em um lugar qualquer para se abrigar, Jack sugeriu que seria melhor voltarem para o acampamento.



"Você queria voltar a um minuto antes! Nós não devemos estar tão longe da escotilha" Jack gritou para que pudesse ser ouvido com o barulho da chuva.



"Jack, está chovendo muito, não consigo ver nada. Não sei sequer onde a escotilha está!" ela tentava argumentar com ele. Apenas parecia que ele queria contradizê-la em qualquer coisa que ela dissesse.



Ele olhou ao redor de si mesmo por um momento e então partiu, seguindo o caminho a sua direita "É por aqui"



"Jack..." ela o chamava enquanto corria atrás dele.



"Vá devagar!" Ela quase não conseguia enxergar com a intensa chuva e essa parte da selva parecia particularmente espessa.



Ela parou um momento, tentando respirar, quando ouviu um barulho de queda e viu Jack caindo no chão.



"Jack!" ela gritou quando não conseguiu vê-lo se levantar.



Kate correu a toda velocidade pela lama e folhas molhadas caídas. Viu Jack no chão, mas antes que pudesse alcançá-lo, seu pé escorregou e ela caiu, mas para ela o chão não chegou tão cedo como tinha sido para Jack antes.



Jack tinha se chocado contra o chão inconscientemente, logo ele sequer ouviu Kate gritar o seu nome enquanto ela caia do penhasco, vários metros abaixo.



Poucos pingos de água, tudo o que restara da tempestade pesada, caíam de uma folha no rosto de Jack, vagarosamente o acordando. Ele não soube quanto tempo havia se passado, mas notou que não estava mais chovendo. Em vez disso, agora o sol estava brilhando.



Jack tocou a sua cabeça machucada gemendo e deu uma olhada ao redor. "Kate?" ele chamou.



Nada.



"Kate?" ele gritou mais alto.



Era impossivel que ela tivesse retornado à escotilha, deixando-o ali. Mesmo que eles tiveram uma briga mais cedo, não era do feitio dela simplesmente deixá-lo lá na selva, inconsciente!



Ele se ergueu e deu outra olhada ao redor.



Seus olhos viajaram pelo local e ele notou um pedaço de tecido azul no chão. Era um pedaço de pano rasgado que lembrava a camisa que Kate estava vestindo. Jack ajoelhou para apanhá-lo. Então, ele vagarosamente olhou para cima para ver a ponta do penhasco em frente dele.



Buscando o ar pela garganta, ele alcançou a beira, e lá estava ela, deitada no chão, sem se mexer.



Jack estava muito longe para ver se ela tinha qualquer ferimento sério... ou se ela estava ainda respirando.



"Kate!" ele gritou com o máximo de seus pulmões, sua voz cheia de preocupação. Todas as coisas ditas anteriormente foram esquecidas agora.



"Kate, estou indo" ele disse novamente, procurando um jeito de descer.



Ele a alcançou em poucos segundos. Ela estava deitada de lado e ele notou que estava gelada, mas assim que procurou a pulsação, ficou alividado em encontrar uma.



A próxima coisa que notou foi o sangue. Vermelho e grosso derramado pela parte superior do seu corpo, mas ele não podia ver de onde vinha.



"Kate, acorde" ele afastou o cabelo dela do rosto. "Sinto muito. Acorde, por favor!"



Ele estava temeroso em movê-la, caso houvesse danos na espinha ou hemorragia interna.



Uns minutos passaram e ela não levantou. Jack, com sua expressão cheia de receio, começou a examinar o seu corpo, procurando qualquer sinal de ferimentos, tentando movê-la o menos possível. Milagrosamente ela não parecia ter ossos quebrados. Seu tornozelo estava vermelho e inchado, mas alguns dias de repouso deveriam funcionar para ficar tudo certo.



Enquanto ele tocava a lateral, Kate gemeu um pouco.



"Hei, Kate" ele sorriu "vamos agora, abra os seus olhos" ele pediu, a esperança voltando para ele.



Ela inspirou produndamente o ar e fechou seus olhos mais apertadamente em uma expressão de dor, mas isso durou apenas um momento. No próximo, ela estava batendo as pálpebras em uma tentativa de mantê-las abertas.



"Jack..." ela gemeu, virando-se lentamente.



"Hei" ele sorriu, nervoso e feliz ao mesmo tempo.



Kate tentou se mexer, mas a dor a impediu. Ela choramingou e Jack a acudiu novamente.



"O que aconteceu?" ela perguntou depois de esperar poucos segundos a dor passar.



"Você que me diz. Acordei e te encontrei aqui embaixo"



Ela vagarosamente olhou para acima do penhasco, repassando em sua cabeça os eventos anteriores à queda "Eu escorreguei" ela simplesmente declarou.



Agora que ela havia se mexido um pouco, Jack notou um grande corte profundo no ombro dela, provavelmente de onde vinha todo aquele sangue.



Kate recuou enquanto Jack a tocava.



"Desculpe-me" ele se desculpou "Parece bem profundo. Tenho que dar uma olhada nisso"



"Você consegue se levantar?" ele perguntou



Ela tentou se mover, mas só de se sentar, pareceu ser doloroso o suficiente. Ao se mover, ela sentia como se alguém tivesse varrido o ar de dentro dela. Deu um suspiro e se deixou cair para trás, rangendo os dentes enquanto suas costas tocavam o chão novamente.



"Eu vou te carregar" Jack se ofereceu.



Kate deu um leve aceno de cabeça assim que balançou os braços ao redor dos ombros dele e Jack a segurou firme com um pedaço de corda que trouxe em sua mochila. Ela grunhiu enquanto Jack a movia, mas não reclamou. Com certa dificuldade, Jack intentou em posicionar o corpo dela em suas costas. Ela era tão leve que ele sequer sentiu que ela estava ali.



Devagar e muito cuidadosamente, ele dirigiu-se para o topo do penhasco novamente e começou a caminhar em direção da escotilha tão rápido quanto podia.



Um fraco resmungo escapou dos lábios de Kate involuntariamente e Jack escutou.



"Não tenha medo, tudo vai ficar bem" ele tentava assegurá-la, fazê-la se sentir mais à vontade.



"Eu...eu..não estou com medo...Jack...você está aqui..." intentando falar parecia tornar-se mais e mais difícil "Confio em você" ela sussurrou



Os olhos dela estava fechados agora e suas palavras saiam um tanto confusas entre respirações, mas Jack as ouvia perfeitamente. Ela confia nele. Ela confiava que ele seria capaz de curá-la, de tomar conta dela. Confiava-lhe sua vida! Um sorriso involuntário escapou dos lábios de Jack.



Ele corre, procurando por qualquer coisa que parecesse familiar, finalmente localizando um lugar singular que ele parecia se lembrar.



"Aguente, Kate, estamos quase lá" ele contou para ela.



Ela não respondeu.



"Kate?" ele chamou.



Ele virou a cabeça, logo sua bochecha encostou no nariz dela e em alguns cachos de cabelo. Ela estava inconsciente de novo, mas sua respiração suave no pescoço dele garantiu-lhe que ela tinha apenas desmaiado, não nada pior.



"Quase lá, Kate" ele repetiu, mais para assegurar a si mesmo que qualquer outra coisa.



Menos de quinze minutos depois, Jack estava entrando na escotilha com uma ainda inconsciente Kate em suas costas. Ele foi direto para o quarto e deitou Kate gentilmente no colchão. Ela murmurou e se mexeu um pouco enquanto ele a deixou ali, mas não acordou.



"Sinto muito" ele sussurrou perto do ouvido dela enquanto cuidadosamente afastou o cabelo do seu rosto.



Deixando-a ali por apenas um momento, ele correu para o outro quarto para recuperar o estoque de medicamentos e o restante.



"Jack, o que aconteceu?"



"Nada, Charlie, não se preocupe, tudo está bem" ele não tinha tempo de parar e explicar tudo para ele agora e não tinha tempo de espairecer a mente para fazer isso também.



"Mas sua camisa está toda manchada de...sangue" Charlie olhou para ele incerto.



Jack olhou para baixo, paralisado. Ele não havia notado isso. O sangue de Kate deve ter escorrido do braço dela e caido em sua camisa, deixando um grande mancha do lado direito.



"Não é o meu sangue" foi tudo o que ele pôde dar de resposta, ainda olhando para aquilo. Vendo o sangue dela em si mesmo o assustou mais que tudo o que havia acontecido até agora.



"Então, de quem é esse sangue?" ele perguntou, um tanto irritado.



Jack murmurou algo e, apanhando poucas coisas, correu de volta para o quarto.



"Hei, Jack. De quem é esse sangue?" Charlie perguntou novamente, seguindo Jack.



"Oh, caramba" ele exclamou, vendo Kate deitada na cama "Ela está...?"



"Ela vai ficar bem!"



"Ok" ele ainda a olhava descrente.



"Charlie, se quiser ser útil, traga-me uma toalha limpa!"



"Ok, toalha" ele repetiu, parando nervosamente de roer suas unhas e correndo para o banheiro.



"Traga uma molhada também" Jack gritou do outro cômodo.



Jack o ouviu tropeçar no banheiro.



"Ok, ok" Charlie se moveu o mais rápido quanto pode para pegar tudo o que Jack havia pedido a ele.



Ele retornou com um monte de toalha. Jack pegou a primeira molhada e, arregaçando a manga da camisa dela, gentilmente começou a aplicá-la de leve em seu ombro machucado. Ela estremecia enquanto ele aplicava mais pressão para limpar a área próxima ao corte.



"Shhh" ele acariciou sua cabeça com a mão livre e ela virou o rosto em sua direção, durante o sono "Está tudo bem, está tudo certo" ele sussurrou.



Agora que ele tinha limpado todo o sangue, pôde dar uma olhada melhor no corte. Estava bastante profundo de fato.



"Jack..." a cabeça dela virou para o outro lado, mas ela ainda sabia de certa forma que Jack ainda estava lá.



Ele colocou a mão na cabeça dela e ela vagarosamente abriu os olhos, virando-se para encará-lo "Eu estou aqui" ele sorriu para ela.



"Jack... está frio aqui" a voz dela era fraca.



"É a perda de sangue, Kate, te dá essa sensação" ele explicou.



Ela o observava enquanto ele vasculhava sua mochila, obviamente procurando por algo. Ele pegou um pote marrom e molhou um pedaço limpo de pano com peróxido.



Gentilmente porém firmemente apanhando o braço dela com sua mão, ele se deteve antes de aplicar o desinfetante no machucado "Isso vai ser uma dor um tanto aguda" ele disse desculpando-se. Ela meneou a cabeça para ele ir em frente e ele pressionou aquilo em seu ombro.



Kate mordeu o seu lábio inferior, arquejando-se, mas não moveu ou disse nada, ela simplesmente manteve seus olhos parados, olhando para frente. Jack olhou para ela e um sorriso tímido escapou dos seus lábios. Ela não iria admitir dor mesmo agora, como se fosse um sinal de fraqueza... essa era a sua Kate!



"Feito" ele anunciou, colocando o pano de lado.



Ele continuou examinando o ombro dela, "Mas eu tenho medo de que precise de pontos"



"Oh... mas está bem, é apenas um pequeno arranhão..." ela mentiu, parecendo preocupada.



Jack simplesmente olhou para ela, seus olhos claramente dizendo a ela que ele não estava comprando nem um pouco o que ela estava dizendo.



"Realmente Jack, só me faça um curativo e eu ficarei bem" ele ainda não disse nada, apenas mexeu a cabeça para o lado, parecendo rir. "Veja, eu consigo movê-lo corretamente, olhe" ela tentou convencê-lo, mas suas ações logo negaram suas palavras assim que ela sentiu uma dor aguda tão logo ela levantou o braço um pouco depressa demais. Ela soltou o ar, rápido e fechou os olhos apertadamente.



Jack devagar relaxou o braço dela para baixo.



"Não está tão profundo..." ela tentou protestar mais uma vez.



"Kate, quase possso ver o osso aí" ele insistiu.



Ela olhou para baixo encabulada, frustrando o "estar bem" que aceitara, cedendo.



Ela observava a preocupação de Jack enquanto ele manuseava na mochila uma pequena caixa azul que ela reconhecia do primeiro dia na ilha. Ele abriu a caixa com as coisas de costura e olhou para ela.



"Alguma cor de preferência?" ele perguntou com um sorriso.



Ela deu uma pequena risada nervosa, se lembrando que tinha perguntado a ele a mesma coisa e respondeu igual a ele, "preto básico está bom"



Ele limpou as mãos com alcool e fez o mesmo com a agulha e linha. Quando estava pronto, colocou sua mão esquerda no braço dela, tanto para confortá-la como para mantê-la parada.



Ela o observava com um olhar preocupado no rosto enquanto ele começava a suturar os dois pedaços do corte. Os olhos dela baixaram em seu ombro apenas por um momento, e então ela se virou rapidamente para o outro lado para que não tivesse que assistir aquilo. Quando ele aplicou o primeiro ponto, Kate rangeu os dentes, mas estranhamente notou que não era muito a

agulha que a encomodava, pelo menos não tanto quanto a linha que tinha que traçar um longo caminho pela sua pele e músculo para ficar fortalecida, apenas para começar tudo novamente quando ele aplicava o próximo ponto.



Jack continuou o seu trabalho, sentindo o braço dela começando a tremer na hora em que ele aplicou o nono ponto. A mão dela estava com o punho cerrado, tão apertado que ela podia sentir suas unhas curtas arranhando a palma de sua mão e sua veia do dedo estava tão branca quanto uma folha de papel. Ele não gostava da ideia de causar-lhe dor, mas também não podia simplesmente deixar o ferimento dela aberto.



"Hei, você está ok?" ele perguntou com uma voz suave.



Kate manteve seus lábios pressionados de forma apertada como se ela estivesse temerosa em gritar se os abrisse para responder e somente meneou a cabeça afirmativamente com um rápido sim. Seus olhos estavam apertados também e, enquanto Jack continuava a costurá-la, podia ver um par de lágrimas começando a se formar ali, livremente correndo pelas suas

bochechas.



"Jack, por favor, pare" ela implorou com uma voz fraca quando parecia que não aguentaria mais.



"Eu sei que dói, Kate, mas estava quase terminado" ele lhe garantiu.



"Ela fechou os olhos, chorando silenciosamente.



"O que está acontecendo aqui?" Charlie, atraido pelo barulho, meteu a sua cabeça para dentro do quarto "Oh, que diabos!" ele exclamou, cobrindo os olhos e fazendo caretas enquanto via a cena em sua frente.



Jack, já desconfortável em ter que fazer isso sem o equipamento propício, ficou ainda mais contrariado diante da interrupção de Charlie. No outro cômodo, um distante som de bip começava a preencher o local.



"Charlie... o botão, por favor!" ele mandou.



Charlie abriu os olhos um pouco, olhando para Jack confuso.



"Vá apertar o botão!" ele ordenou novamente e, com isso, Charlie correu para o outro cômodo quase aliviado em fazer aquela tarefa mais fácil.



Jack terminou o último par de pontos e cortou a linha.



"Viu, tudo feito" ele garantiu a Kate.



Ela suspirou e, virando-se para encarar Jack, deu a ele um olhar aliviado.



"Obrigada" a voz dela estava fraca e trêmula e Kate achou que suas pálpebras nunca tinham estado tão pesadas. Ela estava lutando para se manter acordada.



Jack percebeu, colocando uma mão reconfortante na cintura dela, ele ia sugerir que ela tivesse algumas horas de sono quando ela se encolheu. Jack moveu sua mão ao redor da sua cintura e quando ela gemeu novamente, ele a retirou e começou a examinar a área.



Ele pressionou sua mão acima da lateral, perguntando "dói aqui?" constantemente, movendo seus dedos poucas polegadas a cada vez.



Ele examinou toda a área do abdomen. A dor se concentrava principalmente no lado direito, o lado mais afetado pela queda e ele terminou o exame julgando que ela deveria ter uma ou duas costelas quebradas. Ele não tinha máquinha de raio x, mas supôs que se ela não tivesse uma dor mais intensa significava que os órgãos adjacentes não tinham sido prejudicados pela queda e nem pelas costelas quebradas. Não era nada que não pudesse ser curado com poucas semanas de descanso. Claro que ela deveria se manter parada e Jack suspirou, sabendo que seria a parte mais dificil. Ele pegou uma bandagem e começou a enfaixar a barriga de Kate para manter a área o mais imobilizada possível.



A corrente de adrenalina provocada pelos ferimentos que a mantinham acordada enquanto Jack examinava suas costelas baixou assim que ele terminou com aquilo. Os olhos dela tremeram algumas vezes.



"Desculpe Jack" ela disse com uma voz baixa.



"Por que?" ele perguntou, enquanto cuidadosamente a levantou um pouco para que o braço dele pudesse passar com a faixa ao redor do corpo dela.



"Desculpa por te causar todo esse problema e tanto trabalho a mais para fazer..." A voz dela estava se tornando quase um suspiro agora.



"Nem pense nisso, Kate. Não é..." ele começou, mas quando virou-se para olhar para ela, ela tinha prontamente caido em sono profundo.



Jack sorriu "Boa noite, Kate"



Kate dormiu pacificamente quase a noite toda. Ela acordou bem cedo, perturbada por um suor intenso por todo o seu corpo.



Tão logo ela abriu os olhos, notou quão claramente podia ver todas as coisas no quarto mesmo que a luz estivesse apagada. Ela olhou ao redor do quarto vagarosamente, mantendo sua cabeça parada e mexendo apenas seus olhos. Jack não estava mais ao lado dela, mas todas as suas coisas ainda estavam ali. Uma toalha e a caixa de costura foram deixadas em uma mesinha

no fundo do quarto, enquanto a garrafa com algumas pílulas brancas perto estava na prateleira ao lado da cama. Algumas mangas e um copo de água estavam lá também.



A próxima coisa que notou foi o seu corpo. Virando a cabeça de lado um pouco, ela viu uma grande faixa branca ao redor do antebraço e ombro. Ela tentou se mexer, mas uma dor nas juntas a impediu. Suas mãos rumaram para a sua cintura. Ela se contraiu diante do contato e manteve a pressão no ponto até que a dor vagarosamente abaixou. Ela percebeu que Jack havia enrolado uma faixa apertada ao redor das juntas, provavelmente para impedi-la de se mexer muito e por hora, ela aceitou a sugestão. Moveu seus dedos dos pés para checar se suas pernas estavam ok. Nada de errado por lá, exceto por um calor ao redor do seu tornozelo esquerdo. Tentou levantá-lo para ser capaz de ver o que era isso, mas uma fisgada lhe indicou que era uma má ideia.



"Ok, sem se mexer por hora" ela se deu um pequeno lembrete do que havia descoberto até agora.



Virou sua cabeça em direção à porta, pensando que provavelmente alguém estava no turno da escotilha e ela deveria provalvelmente dar ciência de que tinha acordado. Olhar para a porta fez com que o copo de água estivesse diretamente em seu campo de visão e ela notou o quão sedenta estava. Sua garganta se sentia totalmente seca.



Muito lentamente ela levantou a sua mão direita e pegou o copo, mas assim que estava o trazendo para a boa, seu braço tremeu e o copo caiu no chão em uma queda barulhenta, esparramando a água por todo o chão.



"Droga" ela xingou.



Alertado pelo barulho, Jack correu de volta para o quarto.



"Oi" Kate disse fracamente enquanto ela o viu entrando.



"Oi" Havia alívio em seus olhos. Alívio por ela estar acordada, por estar aparentemente se sentindo melhor e falando.



"O que aconteceu?" ele perguntou, vendo o copo no chão.



"Sedenta" ela intentou a dizer.



Jack meneou a cabeça. "Oh, não se mexa, eu irei te trazer um copo de água refrescante"



Ele estava de volta em um instante com o copo que havia prometido. Ele foi muito gentil em ajudá-la a se sentar e segurou o copo para ela. Ela tomou poucos goles e então começou a se deitar novamente.



"Espere, coma uma dessas antes" Jack a ajudou a se erguer e abriu a embalagem com as pílulas brancas que estavam ao lado do travesseiro. "Elas irão fazer com que o seu ferimento não fique infeccionado" Ele entregou o antibiótico e o copo para ela.



Kate nunca gostou de médicos ou remédios, mas era Jack e ela não queria desapontá-lo. Pegou o comprimido, o segurou por entre os dedos por um instante e então o lançou dentro da boca. Jack segurou o copo de água para ela e Kate tomou outro gole de água, engolindo o antibiótico antes de afastar o copo.



Ela deitou devagar, gemendo enquanto esticava o músculo inflamado de seu abdômen. Ela colocou ambas as mãos na barriga, fechando os olhos e esperando a tontura ir embora.



"Jack..." ela o chamou quando sentiu que não iria passar. "Não me sinto muito bem"



"O que foi?" ele perguntou, rapidamente ficando preocupado.



"Minha cabeça está girando" ela respirou fundo antes de continuar "e sinto como se fosse vomitar a qualquer minuto agora" Ela estava respirando devagar e profundamente, tentando fazer as sensações se dissiparem, mas sem sucesso.



Ele disse alguma coisa tentando confortá-la, mas parecia tão difícil para Kate se concentrar na voz dele agora. Todas as palavras que ele disse soaram um distante balbucio para ela.



Ela o olhou diretamente nos olhos por um momento “Está realmente frio aqui Jack!”



“Não, não está...” ele começou, mas então notou pela primeira vez que o corpo dela estava tremendo bastante debaixo dos cobertores. Sua testa estava suando profundamente e, colocando sua mão na cabeça dela, ele percebeu quão quente ela estava.



Tudo parecia o início de uma febre brava, provavelmente resultado de seus ferimentos.



“Hei, hei Kate, está tudo ok, está tudo ok” ele repetia algumas fezes, afastando o cabelo dela do rosto.



Ele sabia que depois do que havia acontecido com ela, era possível que uma febre seria apenas um meio de seu corpo lutar contra uma infecção, mas era Kate e o assustou o fato de que, se ela piorasse, ele não poderia simplesmente levá-la para um hospital mais próximo.



Quando ele olhou para ela novamente, ela tinha desmaiado.



Jack passou a noite toda ao lado dela. Ele não a deixou por um instante.



Colocou uns cobertores extras na cama para ajudá-la a afastar a febre e manteve constantemente um pano molhado na testa.

Ela gemia às vezes enquanto se virava em seu sono, mas não acordou nem uma vez, o que preocupava um pouco Jack.

Durante a noite inteira, ele dormiu talvez por apenas um par de horas ou menos. Mantinha-se ocupado perto dela, porque o pensamento de simplesmente estar sentado ali e fazer nada estava o deixando maluco. Manteve o pano fresco na testa dela, molhando-o a cada quarto de hora. Ele limpou o machucado do ombro ela e colocou faixas novas nele. Ele mesmo enrolou novamente a faixa ao redor no tornozelo torcido.



Ele estava doentemente preocupado, mas tentou tão bravamente se segurar. Pensou que se ele desencanasse apenas um momento, não seria capaz de se recompor novamente.



Quando a manhã chegou, Jack esperava que ela pudesse acordar, mas o dia passou sem isso acontecer.



Por volta do meio dia, Locke adentrou no quarto “Nenhuma mudança ainda?” ele perguntou.



“Nada” Jack parecia miserável, com olheiras em seus olhos.



“Tenho certeza de que ela ficará bem” Locke o encorajou “Aqui, te trouxe umas frutas frescas e peixe. Vocês dois precisam comer. Não vai ser bom se você desmaiar em cima de sua paciente” ele deixou a comida na mesa e foi para o outro cômodo fazer o seu trabalho.



Jack não conseguia alimentá-la com nada. A febre ainda era muito alta e ela estava gemendo e se revirando bastante em seu sono. O suor ainda estava tão mal quanto antes, indicando que a febre não tinha cedido ainda e ela estava respirando sofregamente pela boca.



Durante os próximos dias, Jack não saiu da escotilha nem um minuto. Bem, ele quase não deixava o quarto. Pessoas vinham para ver como ela estava indo e Sun e Charlie tentaram fazer com que Jack descansasse um pouco, oferecendo-se para ficar com Kate por ele, mas eles simplesmente tiveram sucesso em mantê-lo longe por três ou quatro horas e então, depois de um rápido sono, ele estava de volta ao lado dela.





Na segunda noite, a febre pareceu ter recuado um pouco. Ela estava ainda bastante quente, mas não se sacudiu muito e Jack foi capaz de alimentá-la com umas frutas.



“Por favor, Kate, acorde” ele implorou a ela enquanto desenhava figuras em sua mão com os dedos.



Ele havia pedido para ela acordar todos os dias, repetidamente.



As mãos dele estavam cobrindo as dela e ele colocara a sua cabeça para descansar sobre elas, com os olhos fechados.



Enquanto ele segurava a mão dela apertado por entre a dele, de repente a sentiu se mexer um pouco, não realmente apertando a dele, era mais como um se estivesse esticando seus dedos, mas muito mais que uma resposta do que ele tivera nos dois dias que se passaram.



Ele ergueu a cabeça para olhar para ela.



“Hei Kate” ele a chamou, sua voz cheia de esperança de novo.



Ela gemeu e virou a cabeça levemente em direção a ele. Seus olhos ainda estavam fechados, mas sua respiração havia mudado um tanto.



“Sinto tanto! Abra seus olhos e eu irei fazer qualquer coisa” ele disse, acariciando sua testa. Ele notou que a temperatura havia baixado um pouco. Não completamente, mas consideravelmente.



Ela abriu a boca de leve, sentindo-a seca e molhando os lábios um pouco “Qualquer coisa?” ela finalmente intentou a dizer.



Sua voz era rouca e sua garganta parecia terrivelmente inflamada pela falta de uso, mas ela estava acordada e falando.



Ele deixou escapar sua risada nervosa e breve e segurou a mão dela mais apertadamente. Ela sorriu de forma fraca e muito vagarosamente começou a abrir os olhos.



“Hei Jack” os olhos verdes olhavam dentro dos olhos castanhos dele, habituando-se a luz por um breve momento. “Acho que você parece pior que eu” ela percebeu enfraquecida.



Jack passou uma das mãos no cabelo enquanto a outra ainda estava apertando a dela e deu um rápido sorriso.



“É, eu provavelmente não pareço muito bem agora!” ele admitiu.



“Como está se sentindo?” ele perguntou, checando seus sinais vitais.



“Inflamada, fraca, garganta seca” ela molhou os lábios novamente antes de continuar “sem levar isso em conta, estou ótima!” ela brincou.



“Bom. Se você consegue fazer piadas significa que está se recuperando” ele começou com um falso ar profissional “e era questão de tempo” ele adicionou brincando também, se esquecendo de toda a preocupação dos dias passados agora que ela estava com ele.



“Você esteve aqui...” ela perguntou de repente séria “o tempo todo?”



Jack olhou para os olhos dela e sorriu. Deus, era tão bom finalmente ser capaz de vê-los novamente! Ele se inclinou a apenas algumas polegadas do rosto dela “Sim” ele finalmente admitiu.



“Hei, ela acordou. Você acordou!” exclamou Charlie, o qual tinha sido atraído para o quarto pelo som das vozes.



“Como se sente?” ele perguntou, sorrindo.



“Ótima” ela deu um pequeno sorriso para o superanimado rapaz inglês.



“Fantástico” ecoou Charlie.



Jack também estava olhando para ele. Ele deve sempre ser aquele que tem a tarefa de estar na escotilha, ele divagou. Charlie notou o seu olhar.



“O que?” ele perguntou.



“Nada Charlie” ele respondeu com paciência, mas sorrindo diante de sua expressão cômica.



O inglês olhava de um para o outro “Ohh, vocês dois querem privacidade?” ele perguntou em voz alta.



A face de Kate enrubesceu mais que quando ela estava com febre alta e Jack olhou para os seus próprios pés, extremamente interessado neles de repente.



Quando eles não responderam, ele sorriu largamente “Ok, estarei lá fora se vocês precisarem de mim” ele disse, retornando para a área da cozinha, mastigando um cereal. Ele tinha que contar para Hurley tão logo o visse, pensou. O grandalhão devia a ele 20 pratas agora!



Kate olhou para Jack, rindo por causa de Charlie.



“Então, você está com fome?” ele perguntou, levantando da cadeira que tinha colocado ao lado da cama e que tinha sido o seu local de descanso pelos últimos dias. “Posso te preparar alguma coisa” ele ofereceu, mudando de assunto.



“Gostaria de uma água primeiro, por favor”



Jack lhe entregou uma garrafa de água. “Hei, hei, beba devagar. Se você engolir desse jeito, vai engasgar”



Como se adivinhasse, ela tossiu, deixando escapar um pouco de água.



“Engula isso” ele sugeriu pacientemente, mesmo se ela pudesse ver em sua face que ele queria realmente dizer “viu, o que foi que te falei?”



“O que posso preparar para você comer?” ele insistiu.



“Uma fruta seria bom” ela aceitou.



Ele estava tão feliz de vê-la bem e falante novamente. Ele foi para a cozinha e colocou em uma bandeja algumas mangas e bolachas de chocolate para trazer a ela.



A recuperação dela procedeu muito bem nos dias seguintes.



Ele a manteve deitada na cama por mais um dia e meio, mas então ela não poderia ouvir qualquer objeção e disse a ele que se ele não a ajudasse a sair daquele quarto, ela iria bater nele na cabeça e então sairia sozinha.



Ele a ajudou a se levantar. O tornozelo dava certo trabalho, mas ele ficou ao lado dela, assim ela podia usar o ombro dele como uma muleta substituta.



Suas costelas quebradas estavam se curando bem, mesmo que levaria um tempo para estarem totalmente ok. Elas ainda causavam-lhe problemas, especialmente pela manhã, ela as vezes acordava porque em seu sono ela se movia muito ou rápido demais e uma pontada de dor atingia o seu abdômen e ela não conseguia respirar, mas a dor vagarosamente cedia. Por hora, ela conseguia se mexer um pouco o usando como apoio. Ela não se importava muito e ele parecia também não se importar.



“O que você pensa que está fazendo?” Jack a havia deixado dormir por algumas horas e aproveitou a chance para finalmente tirar um longo cochilo também. Quando ele acordou, logo viu que ela não estava mais em sua cama. Ele checou o banheiro primeiramente, mas estava vazio. Indo para a cozinha, ele começava a ficar mais e mais preocupado quando a viu parada próxima à porta da escotilha, tentando silenciosamente abri-la.



Kate devagar se virou com uma expressão cômica de “oh merda” em sua face.



“Jack...eu...ahh...estava apenas...” ela tentava se justificar.



“Você estava simplesmente saindo de fininho!” ele apontou.



Kate não viu motivo para negar nesta hora “Sim” ela disse timidamente.



“Não poderia ter me esperado? Vou te guiar”



“Jack, não sou uma inválida, estou bem agora” ela salientou, um tanto alterada pelo cuidado desnecessário dele “Tem mais de uma semana”



“Bem, nunca vi um osso quebrado ficar no lugar em apenas uma semana” ele apontou espertamente.



“Veja, vou andar apenas um pouco lá fora. Posso aproveitar o ar fresco!”



Ele percebeu agora o olhar em seu rosto. Ela precisava desesperadamente sair, respirar ar fresco. Desde o acidente, ele a tinha a ajudado a andar, mas sempre dentro da escotilha, nunca fora. Considerando as condições precárias do tornozelo e costelas, ele não queria arriscar uma saída e machucá-la mais seriamente além da patética queda. Mas ele podia ver agora que ela começara a se sentir presa. Ela realmente precisava sair ou iria ficar louca. Ela nunca conseguia ficar quieta. Sem dizer palavra, Jack andou até a porta da escotilha e a ajudou a abri-la.



“Vamos” ele disse, sorrindo para ela.



Ela sorriu de volta “Obrigada”



Kate saiu mancando do espaço escuro que era a escotilha, rumo a uma completa luz da selva, de manhã. Ela parou, fechando os olhos por um momento e curtindo a sensação do calor dos raios de sol em sua pele e sorriu. Sentia-se tão bem.



“Está tudo bem?” Jack perguntou



“Sim”



“Vamos dar uma caminhada” então, vendo a preocupação nos olhos dele, ela acrescentou “Vamos ficar por aqui perto. Posso fazer isso” ela sorriu, garantindo a ele.



Eles caminharam um pouco.



“Não me lembrava quão bonito era aqui fora” Kate começou, sorrindo graciosamente para Jack.



“Sim, é um paraíso de verdade, cheio de tudo que você pode desejar...monstros, ursos polares...” ele iniciou a lista, mesmo que soubesse que não iria admitir, às vezes aquilo parecia perfeito para ele também. Como agora.



“Oh, vamos lá, olhe ao redor” ela riu e fez um movimento com os braços como se mostrasse o lugar inteiro para Jack. Infelizmente ela oscilou muito rápido e a perna machucada não seguiu exatamente o movimento como ela esperava. Ela tropeçou e caiu em cima de uma raiz no chão.



Jack estava ao lado dela, mas não deu tempo.





Mesmo que os olhos dele estivessem gritando “viu, o que eu te disse?” Kate apreciou que ele não expressou isso em voz alta. Ela estremeceu um pouco, rangendo os dentes e apertando a lateral do seu corpo enquanto o impacto do solo duro causava uma onda de dor pelo seu tórax. Ela estava de olhos fechados, mas podia sentir as mãos de Jack prontamente checando seus ferimentos. Kate levou um momento para deixar escapar uma respiração que a ajudasse a tornar a dor mais suave e então abriu os olhos.



“Está tudo bem” ela sorriu um pouco para demonstrar a sua declaração. “Estou bem”



“Devemos voltar” Jack sugeriu, aliviado por seu exame e pelas afirmações dela serem compatíveis.



Ele se inclinou para levantá-la.



“Jack” ela o deteve “você disse que faria qualquer coisa”



Ele parecia confuso “O que?”



“Quando eu estava dormindo. Você disse que se eu abrisse meus olhos, você faria qualquer coisa” ela o fez recordar, “... Fiz a minha parte!”



Sim, ele se lembrava. “Sim” ele concordou “mas se você me pedir para desistir de ser protetor, não sei se poderia fazer isso”

“Não vou” ela se inclinou perto dele e sussurrou em seu ouvido “... beije-me”.



Ele pareceu surpreso por um segundo. Mas então parou de colocar toda sua energia em checar os seus ferimentos e, em vez disso, se concentrou na boca dela. Ele se inclinou sobre ela e a apertou gentilmente, atendendo ao seu desejo.



Fim




quinta-feira, 21 de junho de 2012

Medo

* Texto escrito em 18 de junho de 2012

Faz um tempão que não acesso o meu blog, daqui a pouco faz aniversário (agosto) e simplesmente não tive mais inspiração para escrever nem fanfics e nem crônicas.


A razão deste post é que não tenho comigo no trabalho o meu novo diário (está em casa). E preciso urgentemente me expressar!


Confesso que sempre tive problemas com mudanças. Sou convervadora, até mesmo móveis que mudam de lugar no quarto são motivo de desconforto e nostalgia de minha parte. Sinto saudades de como as coisas estavam antes, no local de antes.


Passei 6 meses esperando uma mudança em minha vida, a mudança de emprego. Desde dezembro, tenho mandado curriculos, me candidatado para vagas, ido em seleções, mas nunca deram em nada. Até ultimamente. Primeiro veio um ok do processo para trabalhar em uma faculdade, mas mudaram os planos e não iriam me chamar para a unidade perto de casa, sem contar que não iria aprender nada que fosse relevante para a minha carreira. Quase aceitei, mas só de pensar em ir embora, comecei a ficar triste. Olhei para cada cantinho das ruas que percorro até o metrô, prestei atenção nas conversas dos meus colegas com um ar distante, como se fosse mera espectadora. Encarei tudo como uma despedida e tive vontade de chorar ao pensar que tudo aquilo iria pelos ares, de repente.


Agora acabo de ter a resposta de um processo o qual eu tinha intuição de que iria dar certo. E deu. Mas simplesmente não estou com coragem de pedir demissão hoje. Não hoje. Não agora. Tenho essa mania de postergar para amanhã, preciso de tempo para processar as coisas, para respirar. Apego-me demais aos lugares, aos hábitos, à rotina. Vai ser ainda mais doloroso porque desde semana passada não estou no meu setor e justamente amanhã eu iria voltar para ele. Seria mais um dia, um último dia, onde teria a oportunidade de trabalhar pela última vez com os meus colegas. De rir com as piadas, de jogar papo furado. De reclamar da scanner e jogar praga para as pessoas que entregam documentos no guichê, inclusive torcer para o carteiro ser atropelado (é só brincadeira). Agora caiu a ficha, não vou ter esse tempo de compartilhar pela última vez. Meu final aqui vai ser em outro departamento, fui cobrir outra pessoa na pior das horas.


Como vou conseguir reunir coragem para falar com a chefe logo cedo? Como sentar-me naquela cadeira e pedir as contas? Odeio despedidas, é tão heartbreaking! Não quero chorar, mas estou com vontade. Creio que vou fazer isso quando estiver sozinha de noite em casa. Nem sei se vou conseguir dormir, só de pensar no amanhã, nem fome tenho.


O dia que tanto esperei (e rezei) chegou e estou apavorada. Estou com muito medo, como sempre, das mudanças. Medo de errar, medo de falhar, medo de ser precipitada como já fui antes. Sei que a vida existe para ser vivida, para se arriscar. Mas sair da zona de conforto e encarar uma mudança radical é como um salto do penhasco.


Pode até ser que a despedida seja fria. Pode até ser que as pessoas não sintam a minha falta. Mas conviver por quase um ano, todos os dias, me fez considerá-los como irmãos. É incrível como o ser humano se acostuma com as coisas, por mais dura que elas sejam. Aposto que aquele que ficou muito tempo internado ou mesmo preso, apesar do lugar horrível, lá em seu íntimo sente saudades de pelo menos uma coisa, principalmente dos seus companheiros de sofrimento.


Nunca fui demitida, sempre pedi demissão. Não pense que é fácil porque não é. Detesto ter esse tipo de conversa séria. É como se deixasse as pessoas na mão. Porém, é a minha vida e tenho que tomar as rédeas e ter coragem para seguir em frente. Nada é eterno, um dia, todos também vão sair daqui rumo a um emprego melhor. Só queria ter um pouquinho a mais de tempo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Fic: O dia sem fim

Ship: Dexter e Emma (One Day - Um dia)
Classificação: PG-13
Completa: Yes (x) No ( )
Capítulos: one-shot
Advertência: A fic contém spoiler para quem não leu o livro até o final
Resumo: Dexter acha estranho o fato de Emma não ter comparecido ao encontro no final da tarde. Um dia que parecia ser simples iria mudar a vida dele para sempre.

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar para pensar, na verdade não há” (Renato Russo)

15 de julho de 2004

O céu escureceu em Londres. Quando a chuva começou de forma amena, Dexter se esquivou das gotas d’água, encolhendo o corpo na pequena escada da casa que estava para alugar, a qual ele havia combinado de ver juntamente com Emma. Não chegou a falar com ela, mas tinha deixado recado em sua caixa postal, contando sobre a casa e mandando o endereço da mesma por torpedo. Havia acertado o encontro às cinco horas. Emma ligou, mas também não conseguiu falar com ele, porém deixou uma resposta, concordando em ver o imóvel. Ela se mostrou interessada, mas avisou que chegaria atrasada uns cinco minutos. Passaram-se cinco, dez, quinze e nada de Emma chegar. Dexter olhava para o relógio e se remexia, sorrindo desconfortavelmente para a corretora, procurando se desculpar pelo atraso de sua esposa:

-Deve ser por causa do tempo... Essa chuva toda, a cidade deve estar um caos!

A mulher deu um sorriso amarelo para ele, mas depois de certo tempo, sua expressão se transformou em algo mais fechado que o clima londrino, até que, de forma seca, resolveu ir embora visivelmente irritada por não ter conseguido concluir a negociação.

A chuva agora havia virado tempestade, fazendo com que Dexter procurasse abrigo no local que estivesse mais próximo. Ele encontrou refúgio debaixo de um toldo de um café que se localizava perto da casa.

“Vamos lá, Em, cadê você?”, ele resmungou para si mesmo. Emma não atendia ao telefone e nem tinha ligado para ele.

“Merda!” Dexter quase teve vontade de arremessar o seu próprio celular na parede quando notou que estava com a bateria fraca e com um sinal péssimo.

“Droga de chuva!”


Andava de um lado ao outro, olhando para a esquina, para o horizonte e para o relógio obsessivamente até que a sua falta de paciência o fez desistir do encontro. Afinal de contas, de nada adiantaria mesmo, a corretora já tinha ido embora e seria um estorvo marcar outra hora depois do furo de Emma.

Durante o caminho, Dexter se lembrou da atitude estranha da esposa naquela manhã, da decepção de Emma ao notar que mais uma tentativa de engravidar foi arruinada após dois anos tentando. Lembrou-se também das discussões absurdas que tiveram sobre política, guerras, etc, onde cada um jogou na cara do outro suas frustrações. Será que era isso que eles haviam se transformado? Dois velhos chatos que brigam o tempo todo? Será que ela ainda estava chateada? Mas depois ele se lembrou do recado dela e resolveu ouvir mais uma vez para ter certeza.

"Oi, sou eu. Só para dizer que estou saindo agora e mal posso esperar para ver o balcão da cozinha. Devo chegar uns cinco minutos atrasada. E obrigada pela mensagem, gostaria de dizer... Desculpe pela irritação hoje de manhã e por aquela discussão boba. Não tem nada a ver com você. Só ando um pouco maluca no momento. O importante é que eu te amo muito. Certo. Lá vamos nós. Boa sorte. Acho que é isso. Tchau, meu amor. Tchau.”

Chegando a casa, a primeira coisa que ele fez foi ir diretamente à cozinha para apanhar um copo. Precisava urgentemente de uma bebida, estava tenso pelo estresse de ficar esperando. Se havia algo que ele detestava era que as coisas não acontecessem do jeito que ele queria. Enquanto despejava o líquido, apertou o botão da secretária eletrônica para averiguar se Emma tinha ligado. O primeiro recado foi de Maddy, a gerente do Belleville Café, acertando os compromissos que teriam com os fornecedores no dia seguinte. O segundo recado o fez quase engasgar. Dexter ficou branco quando uma voz dizia que era para ele se dirigir ao hospital o mais depressa possível. Não informaram mais nada, apenas citaram o nome de Emma Mayhew.

Dexter dirigiu feito louco, avançando os sinais e quase provocando acidentes, até que chegou nervoso diante da recepção do hospital.

-Com licença, sou Dexter Mayhew. Ligaram para a minha casa, mas não me deram detalhes.

A moça verificou no sistema e olhou para ele com um rosto sério.
-O senhor é parente de Emma Mayhew?

-Sou o marido dela. Aconteceu alguma coisa com ela?

-Aguarde um momento, por favor. O médico vai conversar com o senhor.

Dexter não sabia onde mais tremia o seu corpo, se eram suas pernas ou as mãos. Não demorou muito até que um doutor lhe estendeu a mão e o convidou a entrar em uma sala reservada.

-Onde está Emma? O que aconteceu com ela?

-Houve um acidente.

Ele nem deixou o médico continuar, emendando de forma alterada:

-Ela está bem? Eu quero vê-la agora!

-Senhor, eu sei que é difícil, mas é preciso que o senhor se acalme.

-Como eu vou ficar calmo se não me dizem logo o que ocorreu com ela?

Pela expressão do médico, ele soube que não eram notícias animadoras. No entanto, ele não imaginava o que estava prestes a ouvir. Enquanto o doutor explicava o que havia se passado com Emma, Dexter parecia gradualmente não captar as palavras. Não podia ser. Não era possível. Seu cérebro entrou em uma negação tão grande que o ouvido apenas escutava pedaços do relato. “Fratura severa na coluna...” Silêncio. “Ferimentos graves...” Ruídos de pessoas falando ao longe, no corredor do hospital, abafados pela porta fechada da sala. “O corpo foi arremessado...” O suor escorria pela testa dele. “Bateu a cabeça fortemente na beira da calçada... Traumatismo...”

De repente, Dexter levantou-se da cadeira e exclamou em transe:

-Maldita bicicleta! Sempre digo para ela, “Em, tome cuidado com essa coisa!” Mas então ela já emenda com uma pregação do tipo “É mais saudável, Dex, além de não agredir a natureza. Essa cidade já fede, não quero contribuir a poluindo ainda mais” Sabe, doutor, Em sempre foi politizada, depois de lutar pelo feminismo, pela África, discutir sobre a China, sobre a guerra... hoje em dia, a causa da vez é essa onda ecológica. Onde ela está? Precisamos rir disso, quero só ver o jeito orgulhoso dela e qual vai ser a desculpa para continuar aderindo aos protestos...

Dexter ria sarcasticamente e seus olhos divagavam alheios ao que ele tinha acabado de escutar. O médico olhava para ele com pesar e de certa forma aquela atitude austera somente contribuiu para aumentar o desespero de Dexter.

-Espere... Foi muito grave?

-Senhor Mayhew, acabei de informar que infelizmente ela não resistiu, o trauma foi tão intenso que não deu tempo de prestar socorro no local, a sua esposa chegou morta ao hospital. Eu sinto muito.

Sente muito? Quem era aquele completo estranho dizendo aquilo tudo para ele? Não, ele não conseguia acreditar, precisava vê-la, só podia ser algum tipo de brincadeira de mau gosto. Ou um mal entendido, quem sabe uma mulher que tivesse o mesmo nome de Emma? O choque foi tão grande que ele não era capaz de pensar racionalmente. De forma automática, Dexter acompanhou o médico e acreditou até o fim que se tratava de um erro. Então, ele parou diante da porta de uma sala afastada. O doutor abriu a porta primeiro, os pés de Dexter pareciam presos ao chão. Uma onda de pavor começou a subir pela espinha ao avistar ao longe o corpo sobre uma mesa. Seus olhos pouco tiveram a coragem de observar, mas ele soube que era ela somente ao ter um vislumbre de seus cabelos.

Ele não quis entrar, uma forte náusea revirou o seu estômago e Dexter simplesmente não conseguia respirar. Antes que o deixassem ter um momento de privacidade com Emma para se despedir, ele fez a única coisa que podia no momento: fugir. Sem olhar para trás, a passos largos, Dexter se enfiou pelos corredores que mais pareciam um labirinto sem fim, virando-se freneticamente ora para a esquerda, ora para a direita, até que achasse alguma saída qualquer em que ele pudesse escapar daquele pesadelo de lugar. Já era noite e, apesar das ruas estarem movimentadas, Dexter não olhava nada ao redor, caminhando rápido como se fosse uma pessoa atrasada para um compromisso muito sério. Sua mente estava completamente alheia e perdida, ele não pensava, vagando feito zumbi, frequentemente esbarrando nos transeuntes que circulavam pelas redondezas.

Tudo o que fez foi andar. Não se soube por quanto tempo; se ele parasse, seria obrigado a processar os acontecimentos trágicos daquele dia sem fim. Dexter não podia permitir que o dia acabasse porque o combinado era os dois passarem a noite juntos, jantarem talvez em casa e assistirem a um filme preguiçosamente esparramados pelo sofá. Ele até permitiria que ela escolhesse um legendado – francês ou italiano– de algum diretor Cult como um Godard, Truffaut, Fellini, mesmo que ele não conseguisse manter-se acordado ao final.

Nem um grito de um motorista nervoso por ele ter atravessado a rua sem olhar foi capaz de tirá-lo do estado de choque. Como ele não era mais tão jovem (dali a duas semanas completaria quarenta anos), seu corpo começou a sofrer a fadiga típica de quem não mais agüenta o ritmo alucinante de grande esforço físico. Se ele tinha que parar, não poderia estar sóbrio. Portanto, entrou no primeiro pub que encontrou na frente e apenas apontou para a bebida que desejava. Há um bom tempo ele não bebia tanto, não depois de ter finalmente tomado juízo. Não depois de estar em um relacionamento amoroso com Emma. Mas agora Emma não existia mais, se ele estava no inferno então não agüentaria suportar aquilo sem álcool. Tomou uma dose e várias se seguiram até que o dinheiro na carteira ficou escasso, fazendo com que o bartender obrigatoriamente deixasse de lhe servir e o expulsasse. Seria de sua natureza arranjar confusão e relutar, no entanto, ele nem tinha forças para ser o velho Dex bom de briga de outrora. A sua tristeza era tão soberana que o deixava apático. Desde o hospital, ele não havia soltado uma palavra com ninguém.

Cambaleando, ele continuava a perambular sem rumo pelas ruas, sem saber onde estava e sem querer ao menos prestar atenção ao redor. Quase pisou em um gato que pulou de repente de cima de algum telhado e ao se desviar da massa peluda e corpulenta, tropeçou em uma lata de lixo de alumínio, fazendo-a tombar e espalhar o conteúdo pela calçada. Porém não foi somente o lixo que foi ao chão, ele próprio sucumbiu, colidindo com tudo no duro concreto. A dor pelo tombo nem foi sentida, mesmo que o seu braço tenha ficado ralado por ter batido rispidamente contra o asfalto, o seu estado interior estava tão abalado que nada mais importava.

Em vez de se levantar, Dexter ficou estirado na sarjeta, parado, quieto, morto-vivo. A chuva voltou a cair, de início uma tímida garoa e depois evoluiu para algo mais forte. Foi então que ele sentiu pingos quentes em seu rosto, mas não eram da chuva, eram as lágrimas que ele se permitiu liberar como há muito tempo não o fazia. Desde que sua mãe morreu, há muitos anos, Dexter não chorava de forma tão intensa. Mas naquela época, Emma segurou a sua cabeça e o acolheu em seus braços. Agora ela não estava mais ali. E nunca mais estaria. “Como viverei sem minha vida, como viverei sem minha alma?” ele se recordou da voz dela recitando as falas de Cathy e Heathcliff, quando ele mentiu para ela, dizendo que estava enfim lendo “O Morro dos Ventos Uivantes”, mais um dentre vários livros que ela lhe dera de presente em algum momento de suas vidas e ele não conseguira ler porque se entediava e porque não tinha figuras. Finalmente Dexter podia dizer que entendeu o livro, pois estava sentindo o mesmo que os personagens.

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O sol apareceu e Dexter pôde sentir os raios batendo contra o seu rosto. Ele não mais estava na rua, seu corpo residia em sua confortável cama. Abrindo o olho de maneira confusa, ele esboçou um sorriso, pensando ter sido tudo um terrível pesadelo.

-Emma??

Levantou-se em um sobressalto, buscando a presença dela por todos os cantos do quarto.

-Em?

A porta se abriu e Dexter se deparou com o seu pai.

-Pai? O que o senhor está fazendo na minha casa? Espere, eu ainda estou sonhando?

-Dex, eu... eu sinto muito.

-Pelo o que?

-Dexter...

Ele olhava para o filho com compaixão, mas como nunca foi de acobertar a verdade, resolveu mexer na ferida.

-Você sabe do que estou falando.

-Não sei não. Onde está a Emma?

Uma pontada de dor de cabeça o atingiu em cheio por conta da ressaca. “Mas que merda de pesadelo que nunca acaba!” – ele pensava.

-Filho... o médico me contou o quanto você saiu desnorteado do hospital ontem. Nós ficamos muito preocupados, eu, a sua irmã, Sylvie. Aliás, eles entraram em contato com ela porque encontraram o telefone gravado no celular da Emma. Ela me deu a notícia. Procuramos você por toda a parte até que te encontramos entorpecido e totalmente bêbado. Depois, te trouxemos para cá. Ficamos profundamente estarrecidos com o que aconteceu. Dex, eu sinto muito.

Então era verdade. Emma estava mesmo morta. Dexter sentiu a garganta fechar, aquela conversa o deixara claustrofóbico, ele precisava sair e beber novamente, ainda não dava para encarar. Doía demais. Parecia que alguém tinha lhe arrancado o coração ou cortado o seu corpo ao meio. Sem dizer palavra, Dexter rumou em direção à porta do quarto e saiu em disparada, passando os olhos pelos móveis da casa e procurando a sua carteira.

-Espere, vai sair?

-Vou.

-Aonde você vai?

-Eu tenho que sair, pai. Não posso ficar aqui.

-Vai beber de novo?

-E se eu for?

-Não, não vai. Eu sei que é difícil, filho, mas você precisa aceitar a verdade.

-Não, pai, tudo o que preciso agora é de uma bebida. Você não entende? Não consigo ficar aqui sozinho nesta casa, onde Em está em todos os cantos! Não dá, simplesmente não dá...

Ao argumentar, lágrimas escorriam involuntariamente pelo seu rosto e embora ele se debatesse quando Stephen impediu a sua passagem, seu pai o abraçou fortemente e ele não teve escolha a não ser desabar em um choro desesperado. Tudo o que ele necessitava era de colo e encontrou consolo com um homem que já havia vivido essa mesma dor ao perder a sua esposa anos atrás, de maneira igualmente triste.

Dexter passou o resto do dia deitado na cama e encolhido debaixo do cobertor, apesar de estarem em pleno verão. Quase não comeu, servindo-se de pouquíssimas colheres de sopa após Sylvie, sua ex-esposa, tanto insistir, convencendo-o a fazer um esforço em nome de Jasmine, sua filha.

O dia seguinte transcorreu da mesma maneira. Para Dexter, todos os dias eram iguais e sua vida havia parado em 15 de julho de 2004. Sua única “refeição” de manhã foi um cigarro. Seu pai bateu na porta, mas diante da falta de resposta, entrou no quarto para encontrar o filho no mesmo estado, deitado com os olhos fixos no nada.

-Filho, temos que conversar. Eu sei que é cedo, que está de luto, mas... a família de Emma marcou a cerimônia para hoje a tarde.

-Eu não vou.

-Claro que vai! Você precisa ir!

-Não consigo, pai. Não quero ir.

-Você precisa parar de fugir, Dexter. Respeito a sua dor, a sua revolta, mas chega uma hora que temos que encarar os fatos.

Dexter ergueu o tronco e sentou-se na cama, olhando para o pai indignado.

-É só isso que consegue me dizer? Que eu preciso disso, preciso daquilo... Quer saber do que eu realmente preciso? Preciso da Em!

-A Emma não está mais aqui!

Ouvir em voz alta o fez estremecer. Foi como um soco no meio da cara.

-Deixe-me em paz! Por que todo o mundo não esquece que eu existo?

-Porque nós te amamos! Sei que vai ser rude o que vou dizer, mas você não é mais um moleque! Sua mãe cometeu o erro muito grave de te amar tanto que acabou criando um filho mimado além da conta e eu tenho grande parcela de culpa porque permiti que ela passasse a mão na sua cabeça e te apoiasse em todas as irresponsabilidades que você cometeu em sua vida! Todos te amamos tanto, Dex; eu, sua mãe, Emma e com isso você simplesmente não sabe lidar com situações desesperadoras como essa. Agora não dá mais para te proteger, sinto muito filho...

Dexter ouviu tudo de cabeça baixa, acuado em um canto da cama. Depois de alguns minutos de silêncio, ele decidiu responder exatamente quando o pai estava quase saindo do quarto.

-Vinte anos. Demorei quase vinte anos para me dar conta de que Emma era o amor da minha vida. Há três anos eu finalmente me toquei e consegui enxergar o que estava bem debaixo do meu nariz o tempo todo. Todos percebiam menos eu. Justamente quando tudo estava dando certo, eu estava feliz, nós estávamos bem... acontece isso! Não consigo acreditar, pai. É estúpido demais, é mesquinho! Não posso ir porque não consigo dizer adeus a Emma. Não quero me despedir dela.

-Quem disse que você tem que esquecê-la? Seria impossível. Até hoje eu penso em Alison todos os dias. Ainda separo dois pratos quando arrumo a mesa do jantar. Durmo em um lado da cama, com coisa que ela estivesse ocupando o lugar vago. Pego-me falando sozinho como se estivesse conversando com ela.

Dexter tentava enxugar o pranto com as costas da mão, se perguntando se teria o mesmo destino de seu pai, que continuava a dizer:

-Até agora te ouvi dizer “eu não posso”, “eu não quero”, sempre “eu”. Não falo para você ir ao funeral por você, mas sim por ela. Você me disse a pouco que Emma sempre esteve ao seu lado, durante todo esse tempo, nos bons e maus momentos.

-Sim, é verdade. Até no meu casamento fadado ao fracasso com Sylvie ela foi, mesmo estando arrasada, o que eu soube somente anos depois, quando ela me contou.

-Emma merece que esteja lá. Pense nisso.

Dando um beijo no filho, Stephen saiu do quarto, deixando Dexter absorto em suas reflexões a cerca do que eles conversaram.

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Foi uma cerimônia triste, porém muito bonita. Emma era querida pelas pessoas, vários conhecidos dos tempos de faculdade compareceram. Tilly Killick, sua ex companheira de apartamento; Stephanie, amiga que leu o manuscrito do primeiro livro que ela escreveu e a apresentou a sua editora; até mesmo uma de suas alunas mais importantes veio e fez uma homenagem, lendo um de seus poemas. Claro que Ian, o eterno ex-namorado apaixonado estava lá.

Dexter surgiu mais ou menos no meio da cerimônia e quando ele chegou, os olhos de quase todos se voltaram para ele com pesar. Ele não fez discurso, seria muito para ele suportar. Mal conseguia ficar sentado ouvindo as pessoas falarem sobre Emma; em uma tentativa de não render-se à tristeza profunda, ele voltou sua mente para o sarcasmo. Observaria o comportamento dos presentes e relataria à Emma com minúcia o que se passara.

Após os cumprimentos que recebeu dos parentes e amigos, ele foi o último a ficar. Seu pai não queria deixá-lo ir embora sozinho, mas Dexter o convenceu de que não iria fazer nenhuma besteira. Ele queria estar com a única pessoa que importava para ele: Emma. Não tinha se despedido dela no hospital e nem cogitava a idéia de deixar Emma para trás. Quando ninguém mais estava por perto, ele sentou-se sobre a grama do cemitério e começou a conversar como se ela estivesse ali.

-Viu como estava a Tilly Killick? Toda arrumada, usando roupa de grife. Quem diria, Em, lembra-se como ela era em 1988? Cabelo colorido, tachinhas nas calças de couro, bem estilo new wave. A propósito, Em, você devia ter cobrado a grana que ela te deve. O Ian estava arrasado, coitado. Coitado nada, nunca gostei dele mesmo, ainda bem que você não se casou com ele! O Callum está cada vez mais gordo e como ele suava! Quase ri quando ele tendeu a cabeça para frente, cochilando enquanto o padre passava o sermão.

Um silêncio se fez presente e então Dexter continuou:

-Prometi prestar atenção em todos os detalhes e comentar contigo depois, mas... Poxa Em, não consigo. Você é a dramaturga aqui, não sei fazer um monólogo. Geralmente os comentários sarcásticos ficavam por sua conta.

Dexter coçou a cabeça e logo em seguida resolveu deitar-se no chão, olhando para o céu um pouco nublado. Depois, fechou os olhos e mentalizou a figura de Emma deitada ao seu lado. Imaginou tão intensamente que pareceu sentir que ela estava realmente ali, os dois estando de mãos dadas e compartilhando a quietude do lugar.

-Mas que droga, Em! Eu queria tanto te beijar. Por que não dei um beijo estilo cinematográfico em você, antes de sairmos naquela manhã, super mal-humorados? Eu sou mesmo um idiota e você deve estar rindo da minha cara neste exato momento. Quero te pedir desculpas por ter demorado tanto. Quase vinte anos! Se tivesse percebido antes, teríamos passado mais tempo juntos. Ou teríamos matado um ao outro, quem sabe? Três anos, Em. Nem deu para começar a te chamar de “benhê”! Quem vai caçoar de mim, quando eu arrancar à força cada fio de cabelo branco terrível que aparecer? Sinto sua falta, amor. Esse mundo ficou muito chato sem você.

Antes que desatasse a chorar, Dexter enxugou algumas lágrimas teimosas que haviam escapado anteriormente e decidiu que essa melancolia não combinava com eles. Dex e Em. Em e Dex. Não sabia o que o futuro lhe reservava, no entanto, desejava que seria para sempre dessa forma. Dex e Em. Em e Dex. 4ever, como quase escreveram quando tinham vinte e poucos anos na coluna de pedra no topo da colina Arthur’s seat, em Edimburgo.

-Bem, está ficando tarde e vai chover daqui a pouco. No dia de São Swithin choveu muito, o que significa que os próximos quarenta dias vão ser iguais. Quer saber, a partir de agora vou considerar o dia 15 de julho como o dia de Emma Morley Mayhew e não de São Swithin. Prometo pensar em você neste dia... Com coisa que não fosse pensar também nos outros dias... E prometo fazer algo bem legal todos os anos nesta data, acho que é isso que você gostaria que eu fizesse.

Dexter sentou-se novamente na grama para se despedir de Emma.

-Adeus, Em.

Fez uma pausa e emendou:

-Não vai responder? Queria tanto ouvir a sua voz!

Ele lembrou-se da mensagem que ela tinha deixado para ele no celular e a acessou mais uma vez, atentando-se principalmente na parte em que ela lhe disse adeus:

“Tchau, meu amor. Tchau.”

Assim, Dexter Mayhew ergueu o corpo, sacudiu algumas folhagens que grudaram em sua calça e soltou um suspiro profundo antes de dar o primeiro passo, o mais difícil, o que o faria seguir em frente e encarar a vida adulta sozinho, sem Emma, pela primeira vez. Afinal, como diria seu pai, era preciso crescer.


FIM