sábado, 13 de junho de 2009

Desejo X Amor

Érika estava passando por um período difícil. Rodrigo estava inseguro e não sabia se investia ou não em Gabriela. Estava interessadíssimo nesta mulher, mas ela não deixava transparecer se estava também afim dele. Noite deslumbrante. Festa. Gabriela estava presente. Érika também. Ela acabara de descobrir que Léo, o cara no qual ela se apaixonara perdidamente não queria saber dela. Antes acreditou que tudo ia dar certo, visto que ele tinha sido muito gentil e amigo além da conta. Eram amigos coloridos, ela queria algo mais e ele não , só queria curtir um pouco com ela, mas na verdade ele também estava apaixonado por alguém, por uma mulher linda, aliás, Gabriela, sim, a mesma que Rodrigo era apaixonado.

A festa rolava solta. Gabriela e Léo se entenderam e demonstraram a todos o novo par da noite. Enquanto isso, em uma pequena ladeira, lá do alto, Érika os observava. E como pareciam felizes e perfeitos um para o outro! Ela ficou atônita, segurando o copo de vinho em suas mãos trêmulas de raiva ao ter aquela visão. Mesmo lutando internamente com seus nervos, não pôde conter as lágrimas que aos poucos deslizavam sobre seu rosto. Era o fim. Tudo acabou. Aquela amizade colorida que parecia que se transformaria finalmente em um belo romance tinha ido para o espaço, ou melhor, para o casal localizado na pista de dança e sob o qual iam todos os holofotes. Estava tão fixada que não percebeu a presença de outro alguém, outro coração despedaçado pelo momento. Rodrigo estava interessado em Gabriela, ela parecia lhe dar bola antes. Ledo engano. Gabriela agora estava lá, diante de todos, na companhia de um belo rapaz (Léo). Então Rodrigo viu Érika. Corações amargurados pela perda do amor iminente, que nem chegou a acontecer. Ambos comentaram a cena patética a que estavam assistindo no momento. Trocaram palavras sarcásticas e se apresentaram. Para suportar a fossa, foram beber. Já que estavam na festa e se desiludiram, pelo menos iam aproveitar a bebida de graça. E bebiam. Não queriam saber de mais nada, apenas beber e reclamar a perda do amor. E praguejaram o recente casal. Resolveram, já altos pela bebida, que iriam dançar, só que longe dali, daquela palhaçada geral. Foram embora à francesa. Ele foi ao apartamento dela. Subiram no terraço para admirar as estrelas. E conversaram. Cada um contou a sua desgraça. E choraram, beberam.

Animados novamente, foram dançar na sala de estar no apê dela. Dançaram, riram. E foram ouvindo a música, embalados, dançando lenta. Duas almas perturbadas, dois corações tristes. Eles não queriam mais sentir aquela dor no peito, aquele vazio e frustração, aquela decepção. E naturalmente, um foi procurando o outro, como uma necessidade biológica. Rodrigo era diferente de Léo, mas também interessante. Érika era diferente de Gabriela, mas tinha sua beleza própria, que não se descobria logo de cara, mas ia se mostrando aos poucos, na medida em que se ia conhecendo-na. Os dois se entregaram de cabeça um ao outro, se rendendo como um soldado cansado de tanta luta e buscando a paz nos braços um do outro.

Eles se sucumbiram ao desejo. Afinal, mereciam um pouco de carinho, precisavam de ter alguém cuidando de si, precisavam mimar e serem mimados. E depois, não deviam satisfações a ninguém, eram livres e desempedidos. A única pedra no caminho eram as figuras do passado, os fantasmas que estavam naquela festa estúpida.

Tiveram uma das noites mais fantásticas de suas vidas, onde imperava somente o prazer, o desejo de ser um do outro. Não havia cobranças, passado, já que praticamente havia poucas horas em que se conheciam. Depois de se curtirem a noite inteira, chegaram finalmente ao sono. Horas se passaram. O dia raiou lá fora. Érika e Rodrigo acordaram e sentiram-se estranhos, afinal o que fora aquilo? Ela tratou de explicar que nunca saia com pessoas que mal conhecia, aquilo foi exceção. Ele, mais tranqüilo, disse que tudo bem, não deviam nenhuma explicação. Afinal, por que se sentir culpado de ter feito alguma coisa totalmente cool? Ela concordou. Ambos tomaram café da manhã alegremente.

O mais engraçado era que apesar de terem se conhecido na noite anterior, parecia que eram velhos comparsas, tamanha intimidade e grau de afinidade que os dois contemplavam. Resolveram que não iam continuar a relação, não fazia sentido. Eles nem eram namorados. Foi apenas uma noite, um momento bacana daqueles para se recordar tempos depois. Ele se despediu e foi embora. Ela ficou sentada no sofá pensando em tudo. Ele também ficou pensando enquanto andava em direção ao carro. Dias se passaram. Érika não tinha se esquecido daquela noite incrível e Rodrigo também não. Ele foi comprar jornal na banca e se deparou com uma foto dela em uma revista. Comprou e ficou olhando. Resolveu ir atrás dela. Ela achou que ele tinha a esquecido. Rodrigo foi ver a peça de teatro em que ela atuava. Ao final do espetáculo, foi falar com ela, que nem acreditou ao vê-lo diante da porta do camarim. Eles foram tomar um café ali perto. Era noite fria. Conversaram e confessaram: sentiram falta um do outro.

Resolveram sair mais vezes. E foram saindo, saindo, noites e noites tão boas como aquela se repetiram. E o tempo passou. No entanto, Érika e Rodrigo resolveram por um fim no relacionamento que nem namoro era. Eles não sabiam ao certo definir a relação, era amizade um pouco, eram ficantes, eram amantes. Chegaram até pensar que estavam apaixonados, mas não era amor. Talvez fosse cumplicidade, muitas coisas em comum , gostavam de ficar juntos mas não era aquela coisa. Tinham uma química incrível e combinavam fisicamente falando, mas era só isso, era uma ligação física, coisa de pele, de corpo. Entenderam isso e terminaram. Porém, não foi um rompimento triste. Ambos sentiram-se livres e com a sensação de tarefa cumprida. Afinal, tinham se usufruído ao máximo, realizaram tudo o que era possível, estavam satisfeitos. E assim, cada um seguiu o seu caminho.

Quantas pessoas pensam que amam, quando na verdade não amam, apenas sentem uma atração, um desejo irresistível pelo outro? É difícil descobrir a diferença entre paixão, tesão, amor e afeto. É o tipo de coisa que só dá para descobrir com o passar do tempo. O mais importante é que ninguém deve ter medo de se perguntar o que sente pelo outro. Muitas pessoas passam a vida inteira enganadas, achando que é uma coisa, quando na verdade é outra. É o tipo de processo que somente a pessoa poderá descobrir, ao analisar os seus sentimentos.

Rodrigo e Érika não tiveram medo e descobriram que era somente desejo. Seriam perfeitos, mas alguma coisa não se encaixou. Os sentimentos são abstratos justamente porque não podermos materializá-los, como um experimento cientifico. Não há lógica e nem explicação. Muitos falam em destino, em almas gêmeas, em missão de cada um, mas na verdade ninguém sabe explicar a origem dos sentimentos, por que gostamos de algumas pessoas e de outras não? Por que algumas pessoas que combinam não ficam juntas? Ou por que pessoas tão diferentes ficam juntas e até felizes?

Rodrigo agora namora outra garota (do tipo da Gabriela) e Érika também namora um bonitão. Ele parece que está feliz e ela vive momentos românticos com o novo namorado. E quanto ao casal da festa? Estes ainda estão juntos, não sabemos se são felizes, mas dizem que sim. Érica nunca mais teve amizade de nenhum tipo com Léo depois daquela festa e Rodrigo também rompeu ligações com Gabriela. E cada um segue seu coração. Assim é a vida, ora junta pessoas, ora separa. Um vai fazendo parte da experiência e história do outro. O que resta são boas ou más lembranças.

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