sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Fic: I can't live without you - Cap 4

Capítulo 4: Our very own Adam and Eve

Abro vagarosamente os olhos. Finalmente consigo despertar das brumas da inconsciência. Ainda estou no hospital. É estranho, mas não me sinto melhor. Estou fraca, sem força até para pensar. Tudo o que consigo fazer é dormir. Meu coração bate lento, meus braços estão perfurados por tubos que injetam alguma substância, soro, remédio talvez. Minha respiração é sôfrega, estou muito cansada. Cansada de lutar, cansada de viver. Não consigo me manter acordada na maior parte do tempo.

-Então, doutor, como ela está?
-O seu estado é crítico, ela está muito debilitada. Ela precisa reagir, mas não sei se terá força o suficiente.
Claire estava arrasada. Às vezes, sentia-se um estorvo por ter sido, indiretamente, uma pedra no caminho de Kate e Jack. Por isso, foi até o quarto tentar falar com Kate.
-Kate, pode me ouvir? Não sei se pode, mas vou dizer mesmo assim. Costumava visitar minha mãe em coma quando estava grávida do Aaron e sempre lhe contava como as coisas estavam indo. Pois bem, aqui estou.
Ela se aproximou da cama e sentou-se na beira, ao lado do corpo de Kate.
-Eu sinto muito. Sinto por ter feito você voltar para cá. Acho que no fundo você queria ficar na ilha até...você sabe, não deixar o meu irmão morrer sozinho...
Claire começou a chorar.
-Eu preciso de você, Kate. Como vou criar Aaron sozinha? Sei que nós dois tivemos um grande progresso, mas ainda não me sinto segura o bastante para cuidar dele sem a sua ajuda. Ainda não estou cem por cento normal, acordo à noite com pesadelos daquele lugar. Tenho medo de enlouquecer igual aquela mulher francesa, a Rousseau. Por favor, Kate, lute!

Uma lágrima solitária caiu de meu olho. Senti compaixão por Claire naquele momento, porém, o que ela não podia compreender é que, por mais que eu tentasse, não iria tão longe. Eu simplesmente não consigo. Não consigo viver sem Jack. A cada dia que passa, o amo ainda mais. Não posso seguir em frente, nem deixá-lo para trás. Pensei que pudesse, quando embarquei ao lado de Claire e Sawyer no vôo de volta para casa. Mas agora que estou aqui, tudo faz lembrar-me de Jack. E não quero abandonar as minhas recordações. Seria o certo, libertá-lo de meus pensamentos para que ele alcance a paz esteja onde estiver o seu espírito. Mas não sou capaz de fazer isso, não contenho a tentação de pedir para que ele fique. Odiei a luz branca que nos afastou e me trouxe para esse hospital!

À medida que o tempo passa, Jack vai se afastando de mim, um dia a mais é uma distância a mais que nos separa. Nunca quero esquecer o seu rosto. Fico brava comigo mesma se não me lembro de imediato alguma coisa importante que ele tenha me dito. Por enquanto, as lembranças estão frescas, mas e daqui a 5, 10 anos?

O sono mais uma vez me vence e caio em um breu profundo. Horas depois, creio eu, ouço uma voz familiar:
-Sardenta?
Sawyer está de pé ao lado do leito. Passa a mão pela minha testa e me olha compadecido.
-Eu sei o que está acontecendo, você quer desistir. Foi exatamente o que pensei quando perdi Juliet. Claro que foi por pouco tempo, no minuto seguinte, o que me alimentava era o ódio eu senti pelo doc...Mas isso são águas passadas, eu o perdoei. Perdoei porque vi a nobreza dos seus sentimentos, a sua atitude de se sacrificar para nos salvar, salvar a ilha e acima de tudo, te salvar. Acredito que esse foi o pensamento final do doc, a satisfação em saber que ele não estava morrendo em vão e que você estava viva. Foi o que Juliet me disse pouco antes de ir, ela explodiu a bomba para que eu tivesse uma chance de me salvar. O doc fez o mesmo. Portanto, não desperdice, lute!

Lutar. Todos agora vêm até aqui para me passar sermão. Eu lutei a vida inteira. Sempre nadando contra a correnteza, fugindo, ficando na corda bamba. E no momento em que senti que a batalha valeu a pena, quando conheci Jack e ele me fez ser uma pessoa melhor, alguém especial, comecei a perder a luta. Perdi a guerra. Perdi Jack. Então, ninguém pode me dizer que não lutei. Fui uma guerreira, um soldado, mas a morte o tomou de mim, vencendo-me cruelmente. E se não bastasse, agora ela quer me arrastar e não tenho mais forças para impedir que ela me leve.

Não ouço mais voz alguma. Uma quietude acomete o lugar, tudo está calmo. De repente, vejo novamente a luz branca. Devo dizer que estou sorrindo, não tenho mais medo. Caminho em direção à claridade, algo me dizia que chegara a minha hora. A hora de partir, o momento do adeus. Ando de maneira altiva, de cabeça erguida, uma certeza me acompanha, a de que finalmente cumpri o meu destino.

Dois dias depois...

A campainha toca e Claire vai até a porta atender. Um sorriso tímido se forma em sua face.
-Hei Hurley.
-Hei Claire.
Os dois se abraçam.
-Entre, por favor.
Hurley adentra a sala, seguindo-a.
-Eu soube de tudo, vim o mais rápido que pude. Dude, tipo, estou muito triste, mas não foi uma surpresa isso o que aconteceu. Eles estiveram juntos o tempo todo, quer dizer, eles tinham se separado, mas você sabe...Eu vi, estava lá na despedida dos dois na ilha, no penhasco. Logo pensei que não iria acabar bem.
-Ela era uma mulher tão forte, Hurley.
-Sim, mas todo o mundo tem o seu ponto de fraqueza. O dela era esse amor pelo Jack. Gozado dude, estranho...mas de certa forma, talvez ele fosse as duas coisas ao mesmo tempo, o seu alicerce e sua ruína. E ela era também isso pra ele. Deixa para lá, esquece...Já tomei todas as providências necessárias. Levá-la-ei de volta hoje mesmo.
-Obrigada Hurley. Não sei onde ela gostaria de descansar e como não tinha nenhum parente, achei que seria mais lógico ela estar ao lado dele.
-Também acho. E você?
-Estou desolada, mas tenho que segurar a onda por causa de Aaron. Achei melhor não contar a verdade para ele, pelo menos por enquanto, ele é muito pequeno para entender esse tipo de coisa. Apenas disse que a tia Kate foi viajar para bem longe, ao encontro do tio Jack.
-Você não está mentindo, pelo menos é o que acho que deve ter acontecido. Jack nunca veio me visitar, até queria, sinto muito a falta dele, éramos, você sabe, amigos de verdade.
Claire franziu a testa, o jeito com que Hurley dizia com naturalidade sobre falar com mortos a deixava um tanto encabulada. Percebendo, ele tratou logo de lhe dar um abraço de despedida.
-Pode deixar, Claire, está tudo certo. Bem, adeus.
-Tchau, Hurley. Mais uma vez, obrigada por tudo.

Mais tarde na ilha...

Hurley estava triste. Ele tinha se segurado até aquele instante, mas agora tinha caído a ficha. Kate estava morta. Ele se lembrou de todos os enterros que já participou na ilha. E se recordou dos discursos de Jack, a cada um que partia. E neste momento, lá estava Hurley novamente diante do túmulo de Jack. Enterrá-lo foi a coisa mais difícil que já fez na vida. Quem fez o serviço propriamente dito foram Desmond e Ben, porque Hugo na ocasião somente chorava. Naquele dia, Vincent o chamou, Hurley seguiu a sua trilha até que localizou o bambuzal. Quando avistou o corpo de Jack caído perto dos bambus, ao longe, ele correu até o local, com esperança de que o amigo ainda estivesse vivo. Mas ele não estava.

Hurley tocou o ombro de Jack, tentando fazer um ritual doido, já que era o novo Jacob, quem sabe não tivesse poderes? Sua tentativa foi frustrada, Jack não ressuscitou.

As lembranças do dia terrível da morte de Jack povoavam a sua mente. Agora era o corpo de Kate que tinha de ser enterrado. Hugo trouxera o caixão com ele, para a ilha. O túmulo de Jack ficava próximo às cavernas. Era um lugar lindo e ele decidiu sepultá-lo ali por ter sido descoberto por Jack. Kate repousaria em uma cova ao lado.
-Dude, eu sei que deveria dizer umas palavras bonitas, mas...eu não consigo. Jack e Kate eram “o casal” desta ilha. O primeiro que vi nascer neste lugar. Nunca te disse, Ben, mas sabe que fui o primeiro a notar o clima de romance entre eles? Pois é...perguntei para o Jack se ele iria levar Kate para morar com ele nas cavernas...E olhe só que ironia! Soube que quando encontraram os esqueletos lá dentro, Locke disse que eram o nosso próprio Adão e Eva. Creio que a metáfora também se aplica aos dois. Pensei que fossem se casar e ter uma dúzia de filhos.
As lágrimas caem em seu rosto sem parar, de modo que Hurley não consegue dizer mais nada.
-Tudo bem, Hugo...Foi muito bom o discurso.
Ben tenta consolar o novo protetor da ilha, não sem dizer a frase de forma lacônica e um tanto sarcástica.
Hurley coloca algumas flores sob a terra recém mexida e profere suas últimas palavras diante dos dois túmulos.
-Eles não puderam viver juntos em vida, mas vão poder estar unidos para sempre, na eternidade.

Continua...

Nenhum comentário: