quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Fic:A verdade está na ilha-Capítulo 22 (final): Um homem de fé

Naquela noite, Charles Widmore estava nervoso e agitado. Finalmente, depois de anos de investigação, descobrira o paradeiro de Ben Linus. Ele tinha tolerado Ben durante anos, porém depois que o mesmo foi ate sua casa e ameaçou matar sua filha Penélope, Widmore resolveu que já era ora de dar um fim naquela “pedra” em seu sapato. Decidiu ir atrás de Ben pessoalmente. Não queria deixar o serviço nas mãos de nenhum capanga. Penny tinha visitado seu pai horas antes e notou que ele estava estranho durante o jantar, parecia ter pressa em partir. Desde que resgatou a todos ali no bote, Penny ficou em alerta com relação aos negócios de seu pai. Ficava de olho para que Widmore não descobrisse sobre a saída de Desmond da ilha. Durante esse tempo, Des ficou escondido, disfarçado, para que não fosse encontrado pelo sogro. Penélope passou a investigar mais seu pai e não ficou nada contente ao descobrir podres e negócios escusos de Charles. Ela teve medo das atitudes de Widmore naquela noite, e se ele tivesse descoberto sobre Desmond? Por isso, resolveu seguí-lo. Desmond ligou para o celular dela, Penny estava de tocaia em frente ao endereço misterioso no qual Charles se dirigiu.

Desmond resolveu ir ao seu encontro, mesmo com o risco de ser visto. Ele temia por Penny, sabia que algo bom não ocorreria ali. Penny sabia que Widmore estava envolvido em algo muito importante naquela semana. Lembrou-se que ouviu Charles em uma conversa telefônica muito suspeita cerca de 10 meses antes. Ao vê-lo sair do escritório, Penny encontrou um cartão sob a mesa e o mais estranho é que tinha um nome coreano: Kwon. Comentou com Desmond, que sabia que aquele nome lhe era familiar. Depois de muito pensar, Desmond lembrou que Kwon era o sobrenome de Sun e Jin. Desmond estranhou o fato, por que Widmore estaria falando ao telefone com Sun? Imediatamente, teve medo da coreana contar ao sogro que ele também tinha saído da ilha.

Assim que Desmond chegou, ele e Penny ouviram os disparos. Penélope ficou apavorada e como ninguém saía do local, os dois resolveram verificar o que tinha acontecido. Ao adentrar o local, viram dois corpos estendidos no chão: eram Charles e Ben. Um havia atirado no outro e ambos mataram um ao outro simultaneamente. Neste instante, Desmond soube que Sun não tinha conversado sobre ele com Widmore, mas sim revelado o esconderijo de Ben. Penélope chorava em estado de choque, ao ver seu pai morto ali no chão. Desmond procurou consolar a amada. Então, ouviram vozes gritando através do telefone: eram Jack e Sayid do outro lado da linha. Imediatamente, Desmond pegou o telefone.
-Alô, Jack? Sayid? São vocês, brothers?
Ao ouvir aquele chamamento peculiar, Jack logo reconheceu a voz.
-Desmond, é você?
-Sim! Onde vocês estão?
-Estamos aqui na ilha novamente. Eu sei que parece loucura, mas é verdade. Escute, Desmond, não tenho muito tempo para conversa, preciso urgente de ajuda! O que aconteceu, cadê o Ben?
-Ele está morto! Widmore o encontrou e ambos fizeram um acerto de contas.

Jack ficou assustado com o que ouviu. Ben estava morto? E agora, quem iria ajudá-los? Explicou rapidamente o problema para Desmond, que não sabia o que fazer para ajudá-los. Então, Penélope encontrou a solução: entraria em contato com Lapidus, para que ele guiasse o helicóptero até a ilha e resgatasse Kate. Ele era de confiança e sabia de toda a história da ilha. Sayid ia ligar um equipamento que deixava a ilha “exposta” temporariamente, para que Lapidus pudesse encontrar as novas coordenadas. Jack respirou aliviado. A ajuda estava a caminho! Agradeceu Des e Penny, que prometeram entrar em contato mais tarde para saber notícias.

Enquanto isso na praia....

Kate estava realmente passando muito mal. Ela suava e gritava de dor. Juliet resolveu pedir para Sawyer e Jin correrem até o território dos outros e avisarem Jack. Os dois foram a passos apressados, todos estavam apreensivos ao ver o sofrimento de Kate. Jack se desesperou ao saber da notícia e saiu da sala de comunicações o mais depressa possível. Sayid decidiu ficar lá, caso alguém resolvesse se comunicar, Lapidus poderia precisar de ajuda para localizar a ilha.

Assim que Jack chegou de volta na praia, Juliet explicou seu plano de ir até a estação médica com Scully para criar algum composto para dor de Kate. Hurley decidiu pegar a velha Kombi para levá-las até lá, já que o lugar era um pouco longe dali.
Jack foi diretamente examinar Kate, que sorriu ao vê-lo de volta.
-Que bom que você está aqui...pensei que fosse morrer sem te ver novamente...
-Morrer? Que é isso, Kate? Você não vai morrer, eu não vou deixar! Não se preocupe, Lapidus está a caminho da ilha, logo logo o helicóptero chegará e você e nosso bebê estarão a salvo! Agüente firme, meu amor!

Jack pegou uma toalha e secou o rosto de Kate. Ela suava muito e sentia dor de quando em quando. Jack segurava a mão dela, lhe proporcionado conforto e segurança. Kate respirava fundo, tentando se conter. Tinha que agüentar até a ajuda chegar!

Locke estava pensativo. Não se conformava com o fato de Jacob não lhe indicar uma solução naquele caso. Por que será? Mulder lembrou-se das palavras de William a Kate. Ele tinha prometido voltar para ajudá-la. Mulder tinha fé que seu filho apareceria em breve na ilha.
Em “outro mundo”...
-Richard, tenho que voltar a ilha agora! Aquela moça precisa de minha ajuda! Eu prometi!
-Acalme-se pequena criança! Eu sei da sua capacidade, de seu poder! Mas você não pode interferir neste caso!
-E por que não?
-Tenho que saber se estou certo. E tudo indica que sim. Durante anos, procurei os “escolhidos”. Pensei em muitos, Ben Linus, John Locke, até chegar em você e Aaron. Sabe, William, você é iluminado, especial, sem dúvida! Mas não é quem eu pensava.
-Como assim?
-Você não é um dos “escolhidos”. Aaron é. Ele e mais um outro garoto.
-Do que você está falando?
-Da profecia. Acreditamos em uma profecia que declara que a ilha precisa de dois escolhidos para continuar a existir. Aquele lugar é sagrado, místico. E um lugar desse precisa de dois líderes muito especiais, “os escolhidos”, que guiarão o povo e serão responsáveis pelo equilíbrio da ilha. Você sabe, William, para haver equilíbrio é necessário dois elementos: os dois pratos na balança, o yin-yang, a luz e a escuridão, o dia e a noite, a razão e a emoção...Sem esses líderes, a ilha se torna vulnerável, veja só, nestes últimos anos ela quase foi destruída, muitos adoeceram e morreram, não há nascimentos lá.
-Preciso ir, por favor, me deixe ajudá-la!
-William, sinto muito, mas não permitirei sua partida.
William ficou inconformado, queria realmente ajudar Kate. Sentiu raiva de Richard, lembrou-se que Mulder o alertou que não se podia confiar naqueles seres.
Jack a esta altura andava de um lado ao outro, esperando a ajuda que nunca chegava.
-Jack, por favor, se acalme!
-Kate, não se preocupe, fique quietinha, ok?
-Jack...acabei de lembrar daquele garoto, William. Ele me disse que voltaria aqui para me ajudar. -Kate, ele é uma criança! Tá certo, depois daquilo tudo que presenciamos, o tal “poder” dele, reconheço que fiquei impressionado. Mas...sei lá para onde ele foi, tente não pensar nisso!
-Como sempre, você desconfia! Jack, alguma vez na vida você já teve fé?
-Claro que sim! Mas toda vez que tenho fé, alguma coisa muito ruim acontece e eu acabo a perdendo. Oh, me desculpe! Esquece a besteira que acabei de falar, estou um pouco nervoso.
-Pois te digo uma coisa. Eu também não acreditava em muita coisa, sofri muito na vida, mas depois de tudo o que me aconteceu...Jack, pense bem. Eu escapei de uma senhora condenação pelos meus crimes pegando apenas uma condicional, ganhei uma segunda chance aqui na ilha...Antes, era a fugitiva, aqui na ilha, tive a oportunidade de me redimir. Sofri muito com a perda de Aaron, mas por ironia do destino, fiquei grávida. E isso em si já é um milagre para mim!

Mal acabou de dizer isso, Kate sentiu uma dor insuportável. Então, uma poça d’água surgiu: a sua bolsa acabara de se romper. Jack sabia que Kate não agüentaria por muito tempo. Enquanto isso, Juliet e Scully tentavam a todo custo combinar elementos, misturando fórmulas, até que finalmente conseguiram fazer um composto improvisado. Isso iria pelo menos segurar um pouco mais a gestação e funcionaria como um analgésico. Pegaram também vários remédios, algodão e materiais cirúrgicos para caso de emergência médica.

Resolveram voltar, porém quando entraram na Kombi, a mesma não pegou. Hurley tentou, mas o carro justamente nesta hora não quis cooperar. As duas desceram e resolveram voltar à praia correndo. Hurley prometeu que se conseguisse fazer aquela geringonça funcionar, as alcançaria.
Lapidus pilotava o helicóptero em direção à ilha, mas de repente o céu estava fechado e chovia intensamente, dificultando sua trajetória.

As contrações de Kate estavam cada vez mais intensas e com pouco intervalo de tempo. Ao ver estado de Kate, Jack constatou: em breve o bebê iria nascer, não daria mais para segurar, ele mesmo teria que fazer o parto, já que Juliet e Scully não estavam lá!

Jack reuniu o povo da praia, pedindo que eles o ajudassem nos preparativos, arranjando água, toalhas mornas, limpando o ambiente, etc. Os sobreviventes se mobilizam para ajudar Jack.
Claire e Sun se prontificam a ser “enfermeiras”, Bernard permanece ao lado de Jack para auxiliá-lo no parto. Jack respirava fundo, estava completamente apavorado com o grande desafio que a vida lhe proporcionava: trazer ao mundo seu próprio filho!

Tudo conspirava para que isso acontecesse, a ajuda de todos os lados nunca chegava, o fato de ele ser o único médico ali no momento...
Kate gritava de tanta dor. Claire passou a mão em sua testa, procurando consolá-la. Kate chamou Jack, puxando seu rosto para perto. Então, cochichou em seu ouvido:
-Eu também te amo!
Jack ficou surpreso e emocionado com a declaração que ele tanto queria ouvir e justo ali, naquele momento, ela lhe dissera! Dito isso, Kate ameaçou desmaiar. Imediatamente, Bernard colocou álcool para ela cheirar, ela não podia ficar desacordada, caso contrario, poderia entrar em coma. As dilatações voltaram, Kate fazia força. Porém, sentia muita dor e fraqueza. Minutos depois, ela apagou. Jack mais nervoso do que nunca, sacudia Kate para que ela acordasse. E ela não acordou.
Hurley finalmente conseguiu fazer com que a Kombi pegasse e foi logo procurar as doutoras pelo caminho. Lapidus lutou contra a força da natureza e apesar de quase cair com o helicóptero, conseguiu controlar a máquina e estabilizar o vôo, retornando a sua rota.

Começou a chover forte na ilha. Parecia que a chuva queria lavar o local, purificá-lo. Todos estavam tristes por causa de Kate. Claire e Sun não agüentaram ver aquela situação e começaram a chorar. Jack não parava de chacoalhar Kate, tentando a todo custo reanimá-la. Bernard e Sawyer tentaram contê-lo, retirá-lo dali, mas Jack se soltou deles e se recusou a sair. Ficou ali sozinho.

Ao ver Kate imóvel, Jack se debruçou sobre ela e começou a chorar. Disse-lhe que a amava e que não suportaria viver ali na ilha sem ela. Jack começou a implorar, pedindo ajuda como que para si próprio, quase rezando para tê-la de volta. Chorava desesperado, estava desolado por não ter conseguido salvá-la. De repente, ouviu um suspiro, Kate abriu os olhos!

Jack começou a sorrir, com lágrimas nos olhos. Ela não morrera! Ou talvez tenha morrido por uns segundos e voltado milagrosamente à vida, de tantas súplicas por parte dele. Jack orientou Kate para que tentasse fazer força. Depois de várias tentativas, ela finalmente deu um grito, se esforçando ao máximo. Então, Jack pôde ver a cabeça do bebê e imediatamente o puxou, trazendo-o para a vida! Todos da praia se surpreenderam ao ouvir o choro do bebê.
Bernard, Claire e Sun correram para a tenda, o pessoal pensava que Kate havia morrido naqueles instantes anteriores. O povo estava já de luto, triste quando de repente ouviu aquele choro característico de recém-nascido. Kate chorava de emoção e segurava seu filho todo sujo de sangue. Jack estava parado, em estado de choque, pensando “não acredito, eu consegui, eu os salvei”. Kate o chamou para perto de si, Jack não acreditava que estava segurando aquela mãozinha, de seu filho. Os dois choravam, emocionados. A chuva parou instantaneamente, trazendo uma calmaria intensa. Ninguém parecia acreditar, tinha acontecido um verdadeiro milagre!

Juliet, Scully e Hurley chegaram a praia e viram a grande movimentação de todos. Logo entenderam, ao ouvir o choro. As duas correram para a tenda, Juliet procurou dar assistência pós-parto a Kate, enquanto que Scully limpava o bebê. Jack saiu da tenda para trocar a roupa suja de sangue e se limpar. Ao sair, recebeu os cumprimentos de todos presentes. Sawyer o olhou de maneira séria e o abraçou; apesar do que sentia por Kate, ele soube reconhecer que Jack tinha sido um herói por ter insistido e salvo Kate. Sentia um pouco de inveja dele, mas sabia que tinha perdido a parada de vez.

Jack rumou em direção ao rio, perto das pedras, para se lavar. Estava muito feliz e não acreditava ainda que tudo tinha dado certo. Então, sentiu que não estava sozinho.
-Jack!
Ao virar-se, deparou-se com a figura de seu pai, Christian Shephard.
-Não se assuste, filho! Vim em paz! Aliás, vim aqui me despedir, não irei mais te incomodar.
-Pai? Só me explica uma coisa, por que você resolveu aparecer quando eu estava fora da ilha? Veio me visitar várias vezes, pensei que estivesse louco, então, de repente, você parou de aparecer. Aí agora surge novamente?
-Aparecia para você naquela época porque tinha que te avisar que seu lugar não era lá, mas sim aqui na ilha. Esse lugar precisava de você.
-Precisava de mim?
-Sim, basta ver como a ilha estava quando você chegou e como ela está hoje!
-Mas eu não fui o responsável por todos os consertos...
-Não diretamente, mas de certa forma, você esteve envolvido nos assuntos cruciais da ilha. Pense bem, Jack. Muitos aqui não teriam feito nem metade do que fizeram se você não estivesse aqui, motivando-os. Você é um grande líder, não adianta negar. Você precisava voltar a esse lugar, por que senão como meu neto viria ao mundo, hein? Saiba que ele foi um milagre, nem mesmo Jacob nem ninguém conseguiu intervir ou mesmo impedir o nascimento dele na ilha. Ele tinha que nascer aqui, pois aqui é e sempre será o lugar dele, assim como também ocorre com o meu outro neto, Aaron.
-Não estou te entendendo, pai!
-Está sim, só não quer admitir. Seu filho é poderoso, ele foi o único concebido aqui na ilha a nascer com vida, ou seja, ele é um milagre. A ilha permitiu isso porque ele será fundamental para esse lugar, ele é um dos escolhidos. Agora sinto muito, mas preciso ir.
-Pai, por favor, fique mais um pouco, vamos conversar mais sobre essa história!
-Não há o que conversar. Jack, agora você é pai e como pai, irá aprender muito com seu filho. Tenho muito orgulho de você, eu sei que nunca te disse isso, eu falhei com seu pai, falhei com a Claire...Mas então, tive essa oportunidade de interferir no destino de vocês dois e fico feliz em ter conseguido cumprir minha última missão! Adeus, Jack. Seja para seu filho o pai que eu nunca fui; o oriente, o ajude. Ele precisará de seus ensinamentos, afinal, também será um grande líder desse lugar.

Christian então deu um abraço em Jack e sua imagem desapareceu. Jack ficou muito emocionado ao ver seu pai. Depois de anos brigando, eles finalmente pareciam ter se entendido.
O povo da praia neste momento ouviu um barulho forte vindo do céu, era o helicóptero de Lapidus que acabara de chegar na ilha. Frank pousou e foi correndo para a praia.

-Ih, chegou tarde demais, Kenny Rogers! O bebê já nasceu – Sawyer avisou Lapidus.
Jack veio receber Frank, que se desculpou pela demora.
-Sinto muito, Jack. Enfrentei uma verdadeira tempestade, quase que o helicóptero caiu!
-Tudo bem, Frank. Obrigado por tudo, mesmo assim. Eu sei que da última vez que nos vimos eu desejei nunca mais te ver, mas fico feliz de revê-lo. Seja bem vindo de volta à ilha!
-A propósito, rapaz, meus parabéns pelo bebê!
-Temos que avisar Sayid da chegada de Frank.
-Eu faço isso, Jack. Pode deixar – Locke se propôs a tarefa.
-Obrigado, John. Você se importa de conversarmos um pouco?
-Ok, Jack.
-É bom mesmo que seja você que vá até o território dos outros. Quando eu e Sayid conversávamos com Ben, ouvimos tiros e...o Ben está morto.
-O que?
-É, Charles Widmore o matou. Pelo que entendi, os dois mataram um ao outro, foi um duelo de acerto de contas. A filha de Widmore, Penélope e Desmond, chegaram ao local um pouco depois do ocorrido e falamos com eles. Me parece que a partir de agora, ela assumirá os negócios do pai, ficando encarregada dos assuntos da ilha. Bom, pelo menos sabemos que agora a ilha não corre mais perigo de ataque, Penny é boa pessoa. Porém, o que me preocupa são os outros, temos que contar o que aconteceu com Ben. Temo que eles se rebelem, por isso acho que a pessoa mais indicada para dar a notícia a eles é você, porque você os conhece melhor, viveu entre eles, foi líder de lá.
-É, neste ponto você esta certo. Já sei lidar com aquela gente. Fique tranqüilo, assim que chegar lá, conversarei com o povo!
Lock já ia andando quando Jack o interrompeu:
-Lock!
-Sim?
-Você tinha razão! Odeio admitir, mas eu estava errado. Lembra-se daquele dia, na cabana de Jacob, quando você me disse que eu precisava acreditar, ter mais fé?
-Claro que me lembro!
-Pois é...como você mesmo me falou, eu precisava ser testado pela vida e acredite, hoje eu sofri uma verdadeira provação! Kate praticamente morreu ali, nos meus braços. Ninguém mais acreditava que ela pudesse sobreviver, mas eu insisti, eu tive fé, John, eu torci tanto, pedi tanto para ela não partir que acho que alguém ouviu minhas preces! E se não bastasse tê-la de volta à vida, eu ainda trouxe meu filho ao mundo, meu filho, pelas minhas próprias mãos! Nenhum bebê nasceu com vida nesta ilha, somente Aaron, mas ele não foi concebido aqui. John, o que aconteceu nesta noite foi um milagre!
-Eu te disse, Jack, milagres acontecem! Porém, muitos de nós não vemos porque estamos tão descrentes, tão indiferentes, que ficamos cegos. Os milagres podem ocorrer muito sutilmente, nas pequenas coisas e neste mundo tão frenético, tão egoísta e materialista de hoje, as pessoas não percebem, não notam como tudo conspira a favor do destino, tudo tem um propósito, uma razão de acontecer.
-Que ironia. Justo eu, que sempre busquei a lógica dos fatos, agora me tornei um homem de fé! O que esta ilha não faz?
-A ilha e a vida! Que bom, Jack. É muito bom ouvir isso. Apesar de sempre brigarmos pelas nossas opiniões divergentes, quero lhe dizer que te respeito muito como pessoa, como líder. Sempre te respeitei, apesar de tudo.
-Eu te digo o mesmo.

Os dois deram um abraço de amigo e apertaram as mãos. Locke então partiu em direção a outra parte da ilha.

Kate não parou de olhar seu bebê desde que ele nasceu, tudo era tão incrível que ela não acreditava. Agora ela era mãe de verdade! Jack entrou na barraca e foi logo paparicar a nova mãe e o bebê. Os dois trocaram o olhar mais intenso e o sorriso mais terno, estavam mais felizes que nunca. Tinham sido felizes fora da ilha, mas ainda havia muita culpa por ter deixado todos para trás. Agora não havia mais esses empecilhos, a felicidade era plena!
-Kate, nem acredito que você está aqui, comigo, viva! Fiquei completamente desnorteado quando você estava desacordada!
-Te assustei legal, não foi? Mas isso não importa mais, estou tão feliz! Apesar de tudo o que sofremos neste lugar, posso afirmar que é aqui que passei os melhores momentos de minha vida! Ainda bem que não saí da ilha para ter o bebê!
-É, mas tivemos muita sorte. Kate, isso foi um milagre!
-Milagre? Jack Shephard acreditando em milagres?
-Eu mudei, Kate. Depois de ver você voltar à vida, depois de segurar nosso filho nos braços, me tornei um homem de fé.

Kate pegou uma manta para cobrir melhor o bebê. Então, achou o desenho que Aaron tinha lhe dado dias antes. Ao olhar o desenho, notou que a situação retratada era igualzinha à situação que estava acontecendo: ela com o bebê no colo perto de Jack, com a praia ao fundo e o céu cheio de estrelas. Kate mostrou o desenho a Jack, que ficou impressionado com a “previsão” de Aaron. “Então era verdade o que meu pai me disse, Aaron e o bebê eram especiais, os escolhidos”, pensou.

Seus pensamentos foram interrompidos com a presença de Mulder e Scully no local.
-Eu sei que você está sobrecarregado nessa noite, mas precisamos te pedir um favor! – Mulder começou a conversa.
-Favor?
-É. Vimos um senhor chegando com o helicóptero e já que felizmente vocês não precisaram de socorro, será que a gente podia pegar uma carona com ele de volta? – Scully falava seriamente.
-É claro que sim, imagina! Quero aproveitar para agradecer tudo o que vocês dois fizeram pela gente! Vocês foram incríveis, desde o começo, quando estávamos fora da ilha. Muito obrigado mesmo!
-Nós é que agradecemos! Graças a vocês, tivemos a oportunidade de conhecer esse lugar mágico e reencontrar nosso filho William, mesmo que por pouco tempo.
-Sinto muito por isso. – Kate se penalizou ao ver a expressão triste no rosto dos agentes.
-Tudo bem, Kate. Temos a esperança de que William está bem, onde quer que ele esteja.

O dia amanheceu com sol radiante. Depois daquela noite agitada, todos finalmente puderam dormir tranqüilos. Locke resolveu falar com o povoado dos outros, todos ouviram com atenção. Penélope fez um pronunciamento por meio da sala de comunicações, se comprometendo a zelar pela segurança da ilha. Ninguém mais iria atacar o local, ela e Desmond ficariam à disposição lá fora, caso precisassem de ajuda.

Kate acabara de amamentar o bebê, Sawyer foi visitá-la.
-Com licença, sardenta?
-Sawyer! Quer segurar o bebê um pouquinho?
-Eu? Não, não! Não tenho vocação para “Os 3 solteirões e um bebê”. Não tenho jeito com essas coisinhas!
-Coisinhas? Veja só como ele é lindo!
-Ele tem cara de joelho, mas vejo que futuramente terá umas sardas. Ele tem os seus olhos. Deixe-me vê-lo mais de perto.
Como tinha acabado de mamar, o bebê deu uma “gorfada” na camisa de Sawyer.
-Oh, meu Deus, me desculpe Sawyer! Ele mamou agorinha...
-Sei, sei... Vejo que ele puxou o pai dele, parece que não vai com a minha cara!
Sayid retornara à praia, cumprimentando Jack e Kate pelo bebê. Contou sobre a conversa que teve com Pennny, que prometeu ajudar quem quisesse sair da ilha. A noite chegou e Jack reuniu todos. De repente, Locke voltou e não estava sozinho: muitos do povo dos outros vieram com ele.
O povo da praia olhou apreensivo, porém Locke garantiu que eles vieram em paz. Todos queriam ver com seus próprios olhos o recém-nascido. Ao ver Kate segurando o bebê, ajoelharam-se diante dela. As “outras” tinham lágrimas nos olhos, consideravam o bebê um milagre e uma esperança para as mulheres que quisessem ter filhos na ilha. Então, Jack começou a discursar.
-Antes de cair aqui na ilha, com todos vocês no vôo 815 da Oceanic, minha vida não estava nada fácil. Eu estava vivendo no limite, totalmente perdido e desgostoso. Então, sofremos o acidente. Apesar de tudo o que sofremos, principalmente no início, com o passar do tempo fui conhecendo um pouquinho de cada um aqui na ilha. Lutamos juntos, nos defendemos. Devo dizer-lhes que nos tornamos amigos, parceiros, companheiros na vida e na morte. Aprendemos a conviver com as qualidades e defeitos de cada um, superamos cada dificuldade em equipe. Acredito que cada um de nós deu o melhor de si aqui neste lugar. Nos tornamos uma grande família, cuidamos um do outro, mas também brigamos, e como brigamos! Quantas vezes já perdemos a cabeça, apontamos armas, batemos, discutimos, nos separamos? Depois, como irmãos, fazemos as pazes!
Todos estavam quietos, ouvindo o depoimento de Jack.

-Neste processo todo, infelizmente perdemos pessoas muito especiais, queridas, que foram guerreiras, lutaram até o fim defendendo a ilha, defendendo o bem-estar de todos.
Claire tinha lágrimas nos olhos, lembrou-se de Charlie. Hurley também.
-Eu prometi a todos que um dia tiraria cada um deste lugar. No entanto, não consegui resgatá-los, uma série de acontecimentos malucos surgiu naquele dia, a ilha se moveu e infelizmente só 6 de nós saíram da ilha. Mas não pensem que saímos numa boa. Lutamos muito naquele dia pelo resgate, pela sobrevivência. E durante os anos que ficamos fora da ilha, nossas vidas não foram um “mar de rosas”. Posso falar por mim. Fui até o fundo do poço, me destruí, quase tirei minha própria vida...Não passei um dia sequer sem sentir culpa por ter deixado todos para trás.Tentei várias vezes voltar, mas só consegui por intermédio do Ben Linus. Sinto muito por esses anos!
O povo da praia se comoveu com o discurso. Jack continuou:

-Agora, acabo de saber pelo Sayid que será possível resgatar quem quiser sair da ilha. O nosso amigo Frank irá partir logo mais, levando “nossos agentes” de carona...Tem espaço para mais algumas pessoas no helicóptero. Aqueles que quiserem partir poderão ir nesta ou nas próximas viagens. Penélope e Desmond são nossos novos parceiros, eles estão responsáveis pela segurança da ilha lá fora. E se prontificaram a ajudar-nos no que for preciso na manutenção da ilha e também resgatar a quem desejar sair de vez deste lugar. Saibam que eu não fui feliz quando saí daqui, mas isso não significa que vocês terão o mesmo destino. Eu sei que todos ficaram com ódio de mim por não ter salvo vocês naquela época. Pois lhes digo, desta vez vou ajudar quem quiser ir embora. Então, quem se habilita?

Os sobreviventes se olharam, surpresos. Durante anos quiseram ouvir aquela notícia, esperaram tanto tempo e finalmente a possibilidade de resgate surgira. No entanto, aquele lugar tinha se tornado um novo lar para eles; apesar de não ter o conforto do mundo exterior, eles se sentiam mais protegidos ali, parecia que depois de tanto tempo, tinham criado raízes naquele lugar. Eles tinham medo do retorno, ainda mais sabendo que os 6 não tinham se dado bem quando saíram da ilha. Temiam acontecer o mesmo com eles. Jack ficou surpreso ao ver tanta hesitação por parte das pessoas, ele pensou que estavam ansiosos para irem embora dali. Então, Rose resolveu se pronunciar:
-Obrigada, Jack, pela proposta nobre! Não sei quanto aos outros, mas quanto a mim posso te dizer que não pretendo sair deste lugar. Renasci aqui, sinto que ganhei uma outra chance. Creio que muitos de nós também tiveram uma nova oportunidade de vida nesta ilha. Tá certo, temos muitas dificuldades, mas se levarmos em conta o que ganhamos estando aqui...Além do mais, sempre me lembro daquela sua frase: “se não pudermos viver juntos, então morreremos sozinhos”.
-Concordo com a Rose. “Live together or die alone” – Claire repetiu.
E assim, um a um foi repetindo a famosa frase de Jack, que olhou emocionado toda aquela gente manifestando seu desejo de permanecer na ilha. Então, no fundo da praia, próximo ao mar, surgiu uma espécie de luz, logo todos puderam ver a imagem daqueles que se foram: Ana Lucia, Mr. Eko, Bonnie, Shanon, Charlie, Rousseau, Alex...Eles tinham uma expressão serena e pareciam estar em paz.

Em outra parte, perto das pedras, Mulder e Scully viram William. Scully correu ao seu “encontro”.
-William, meu filho!
-Vim somente para dizer a vocês que estou bem. Não se preocupem comigo! Vim mais uma vez dizer adeus e desejar-lhes uma boa viagem de retorno. Saibam que da onde estou, apesar de distante, estarei de certa forma próximo a vocês, sempre os acompanhando e observando. Se precisarem de ajuda, é só chamar! Te amo mamãe, te amo papai!

William deu um abraço de despedida em Mulder e Scully. Depois, sua imagem desapareceu de vista. Logo mais, os agentes retornaram juntamente com Lapidus, ao “mundo externo”. Viajavam em silêncio, afinal, o que tinha sido tudo aquilo, que lugar era aquele? Nunca poderiam comentar sobre o lugar com ninguém, tinham que zelar por toda aquela gente. Nem adiantaria se contassem, ninguém acreditaria. A ilha era um perfeito mistério, até experiências alienígenas tinham sido feitas ali! Porém, todas as provas disso foram destruídas naquele conflito com os outros. Apesar de não conseguir e não poder colher provas para comprovar a verdade, Mulder estava satisfeito por ter estado ali e ter visto tudo aquilo. Ele e Scully tinham sido felizes na ilha, apesar do pouco tempo que passaram lá, pelo menos conviveram com seu filho e puderam se orgulhar de seus feitos.

O povo da praia estava reunido e celebrava o nascimento do bebê e comemorava a decisão de todos em permanecer ali, vivendo em comunidade. Jack não acreditava no que tinha ouvido, todos decidiram ficar! Ao vê-lo parado, quieto e pensativo, Kate se aproximou. Ao vê-la, ele sorriu e a olhou com carinho. Kate retribuiu o olhar, puxando seu rosto e beijando-o de forma apaixonada. Então, permaneceram ali, abraçados, em silêncio, observando a alegria da festa e curtindo cada momento daquela nova vida.

Uma nova era se iniciara na ilha. O nascimento do bebê de Kate e Jack representou uma nova fase para aquele local místico, encantado. Muitas coisas ruins aconteceram ali no passado, a morte de todo o pessoal da Dharma, as experiências alienígenas, a violência dos outros...Tudo isso contribuía para o fato de não haver nascimentos na ilha, era como se fosse um castigo dos deuses por todas as coisas ruins ali praticadas. Depois que todos os males foram consertados, a vida em fim renasceu...

O nascimento do bebê trouxe esperança a todos. Ele possibilitou a união do povo, a confraternização, a crença em um futuro na ilha, onde cada um teria a chance de recomeço, de uma nova vida. Mas o mais importante é ter proporcionado a fé àqueles que não a tinham ou naqueles que a tinham perdido.

Finalmente os sobreviventes reconheceram o sinal do destino de que era para eles ficarem ali, nada tinha acontecido ao acaso. Havia uma razão para cada um deles estarem ali, eles tiveram uma segunda chance. Todos estavam perdidos antes de sofrerem o acidente, mas na ilha puderam se encontrar. Acabaram encontrando um sentido na vida. E somente juntos, unidos, seriam felizes.

LIVE TOGETHER OR DIE ALONE!

THE END.

Um comentário:

Unknown disse...

parabéns.. espero que vc escreva mais fics... gostei dessa muito boaa..