terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Fic: Destinos Cruzados - Capítulo 9: Se tiver que ser, será

1977

Ben olha pela janela entediado. Ele foi a única criança Dharma que permaneceu na ilha durante o incidente. Isso porque na época da ocorrência, ele ainda estava com os outros se recuperando do ferimento à bala que sofreu por conta do tiro de Sayid. Quando o mesmo foi capturado pelos outros, Ben já se encontrava de volta em sua casa.

Seu pai lhe recebeu com um abraço, até chorou ao ver o filho de volta. Mas a felicidade durou pouco. Passado alguns dias, Roger voltou a ser o mesmo de antes, bêbado e agressivo com o menino. Ben definitivamente não queria voltar para a casa, tinha gostado muito da convivência com os outros. Lá no acampamento, ele era bem tratado, ao contrario de sua casa. Richard o convenceu a voltar e esperar até que crescesse mais um pouco para que pudesse escolher entre ficar na Dharma ou ser um outro. Para ele, essa decisão já estava mais do que certa, claro que escolheria a 2ª opção.

A Dharma lhe aborrecia, a sua melhor amiga foi embora, somente anos mais tarde, Ethan retornaria e seria o seu fiel escudeiro. Mas por hora, tudo era sofrimento. Não mais suportava viver com o pai, desde essa época planejava maneiras diferentes de como matá-lo. Ben contava os dias para que seu sonho se tornasse realidade.

À noite, no acampamento dos outros...

Sayid estava bem melhor. Já conseguia levantar-se e andar um pouco. Embora fraco, se esforçava para se movimentar, não agüentava ficar parado dentro da barraca, era agitado demais para tal feito.
-Então é isso, agora eles são nossos amigos?
-Entendo você, Sayid. A sua desconfiança é a minha também. Toda a vez que eu perguntava como eles tinham te curado, Richard nunca me deu uma resposta consistente. Não sei por que ele nos permitiu ficar aqui, sendo que no futuro, eles fizeram o que fizeram contra o nosso pessoal.

A conversa de Sayid e Jack é cortada por um barulho. Jack ouviu alguém tossir e o som vinha da tenda de Juliet. Foi imediatamente até lá. Juliet havia aberto os olhos há pouco. Ela estava zonza, completamente confusa.
-Juliet?
-Jack, o que aconteceu, onde estou? Eu morri, nós morremos?
-Não. Mais é um bom sinal você ter recuperado a consciência. Tudo bem, o que está sentindo?
-Minha cabeça está oca, estou meio tonta. A última coisa que me lembro foi de estar dilacerada por dentro ao lado daquela bomba maldita que você jogou. Eu tive que bater para que ela funcionasse. É só o que me lembro, não me recordo de nada.
-Nós estamos no acampamento dos outros. Uns homens te trouxeram para cá, não sei onde te acharam, nem como te curaram. Richard não quis me explicar.
-Richard, como sempre, enigmático. Ai.
-Cuidado, você não deve se mexer. Preciso chamar a pessoa que está te tratando.
-Hei, Jack, espere. Quem mais está aqui? O James, onde ele está?
-Juliet. Antes de mais nada, gostaria de te pedir desculpas. Você não sabe o alívio que foi para mim quando te trouxeram, me senti responsável pela sua morte, não conseguia dormir pensando nisso. Sinto muito pelo plano não ter saído como o combinado. E quanto ao Sawyer...Ele...ele sofreu demais com a sua morte, ele simplesmente não agüentava mais esse lugar e por isso resolveu sair da ilha.
-Como assim, de que jeito?
-Ele esperou o submarino retornar e provavelmente forçou os caras a levarem-no para o exterior. Acho que ele conseguiu, não tivemos mais notícias dele desde então.
-Ó meu Deus! Que loucura, como será que ele vai sobreviver lá fora? Ainda estamos em 1977?
-Infelizmente sim. Mas de uma coisa eu tenho certeza, se tem alguém que saberia se virar lá fora, esse alguém é ele. Sawyer é esperto, se adapta em qualquer situação. Vocês sobreviveram aqui na ilha durante 3 anos, conquistaram espaço e confiança daqueles malucos da Dharma, quer maior exemplo que isso?
-Tem razão, aquele filho da mãe é danado!
Juliet põe a mão no rosto e começa a chorar. Ela queria que ele tivesse ali, ao lado dela. Tinha medo de ficar presa na ilha para sempre e nunca mais reencontrá-lo.

2004

Sayid e Nadia pararam o carro no posto de gasolina. Eles decidiram sair de LA e ir para uma outra cidade, mais distante, para que pudessem se esconder melhor. Não queriam saber de agentes perseguindo, tanto americanos como iraquianos. Enquanto ele abastecia o carro, Nadia foi até a loja de conveniência comprar algumas garrafas de água e besteiras para comer na viagem.

Pegou o que queria e se dirigia ao caixa, quando um homem de feições árabes entrou no estabelecimento. Ele deu alguns passos e a avistou. Sem dizer palavra, apertou um botão em sua cintura e literalmente explodiu. Tratava-se de um homem-bomba terrorista. A loja se foi pelos ares, com o fogo, Sayid e algumas pessoas lá fora foram arremessadas longe. Com sangue escorrendo pela testa, ele gritava o nome dela alto, caindo em um choro desesperado de dor.

Hospital San Sebastian...

Durante uma pausa entre as consultas, Jack pegou o celular e ligou para Kate. Ele marcou um encontro para mais tarde, após o expediente, em um local mais afastado para que ela estivesse em segurança. O estado de Diane era crítico, ele precisava dar-lhe pessoalmente a notícia.

Kate chegou ao local na hora marcada. Estava ansiosa em revê-lo, mas temia o que ele tinha para lhe contar sobre sua mãe.
-Hei.
-Hei. Então Jack, como ela está?
-As notícias não são boas, Kate. Sua mãe piorou consideravelmente. O tumor se espalhou rapidamente e está comprometendo o funcionamento dos órgãos vitais. Cada hora é uma coisa, o coração dela está muito fraco e se houver falha no pulmão ou nos rins, não sei se poderemos operá-la com o risco do coração não agüentar a cirurgia.
-Meu Deus! Eu sei que ela tá muito doente, é terminal, mas pode parecer loucura, Jack, eu não consigo deixar de ter esperança que ela melhore, embora eu saiba que isso é impossível! Não quero que ela sofra, mas ao mesmo tempo, não quero que ela se vá. E só de pensar que eu contribuí para isso, lhe causando tanto desgosto na vida e preocupações, me sinto tão culpada, me sinto um monstro!

Kate começou a chorar desesperada. Jack a envolveu em seus braços, a abraçando com cuidado. Ele passava a mão em suas costas, a confortando. Kate desabou em lágrimas, seu choro era sentido. Ela não queria largá-lo, sentia-se tão protegida e amada que tinha vontade de ter o poder de parar o relógio para que ela pudesse ficar ali abraçada com ele por mais tempo.

Após o abraço, ela olhou para ele. Jack a fitava com todo o carinho do mundo, ele sentia uma imensa compaixão por vê-la naquele estado de tristeza. Em um gesto impulsivo, Kate o puxou para um beijo. Tocou os seus lábios de forma urgente. Os dois separaram as bocas em um segundo para no outro, colarem novamente os lábios, se encaixando um ao outro, abrindo suavemente a boca para que as línguas se encontrassem e se consumissem. Intercalaram beijos curtos com outros mais longos, com pequenas pausas para recuperarem o fôlego até que ela se deu conta do que estava fazendo.

Kate se sentiu muito estranha e confusa, o que ela estava fazendo? Ela não tinha direito de estragar mais nada, bastava ter acabado com a vida de todos aqueles a quem amou. Não podia fazer isso com o Jack, ele era bom demais para ela, não tinha o direito de se envolver com ele. Kate nada disse, apenas se afastou e saiu correndo. Jack queria ir atrás dela, mas percebeu sua fragilidade e decidiu dar-lhe um tempo. Sabia que ela passava por um momento difícil e tinha uma vida complicada. Ele mesmo precisava avaliar a situação, no fundo, tinha medo de se apaixonar por uma mulher tão imprevisível e diferente dele.

Mais tarde...

Locke toca a campainha e aguarda uns segundos.
-Pois não, senhor?
-Estou procurando Daniel Faraday, ele mora aqui?
-Sim, entre por favor.
Locke parou perto da porta, enquanto a mulher foi para a sala. Ele viu de longe ela se abaixar para falar com alguém sentado no sofá. Sua voz era suave, parecia que ela falava com uma criança ou alguém doente. Ela fez um sinal com as mãos, chamando John até lá.

O Daniel que ele conheceu na ilha era bem diferente desse que estava diante dele. Faraday estava sentado, olhando para a TV, mas seu pensamento parecia distante.
-Daniel, pode me ouvir?
-Hã...quem é você?
-Você não me conhece ainda, mas um dia vai conhecer, pelo menos eu acho. Não quero que pense que sou um lunático, mas o que tenho a dizer é muito importante e creio que só você poderá me entender.

Faraday continuava olhando para o horizonte, mesmo assim Locke prosseguiu:
-Não sei nem por onde começar, é tão complicado! Pois bem, lá vai: em 22 de setembro de 2004 eu estava no vôo 815 da Oceanic quando de repente o avião sofreu turbulências e caímos em uma ilha. 48 pessoas sobreviveram, passamos uns meses por lá até que um cargueiro aportou na ilha, mas não era para nos resgatar, mas sim porque estavam a procura de um homem. Nesse cargueiro, vieram uns homens e mais alguns cientistas, você era um deles. Acontece que 6 pessoas conseguiram sair da ilha, o resto permaneceu lá, eu e você inclusive. Foi então que começaram uns clarões terríveis e nos deslocamos no tempo e no espaço.

Daniel finalmente se mexeu no sofá. Olhou para John com os olhos amedontrados.

-Consegui sair da ilha, girando uma roda. Me disseram que o único jeito das viagens pararem seria trazer de volta todos que partiram. Tentei convencê-los a voltar, mas fracassei. Já tinham se passado 3 anos. Um homem chamado Ben Linus me matou. De repente, abri os olhos e lá estava eu novamente no vôo 815 na mesma data, só que desta vez o avião não caiu. Acontece que eu sou o único que se lembra de tudo. Cheguei a pensar que foi sonho, imaginação ou eu estivesse louco. Foi aí que as coisas começaram a acontecer. Aqueles que morreram no passado ou futuro se considerarmos o ano em que estamos, estão morrendo outra vez.
-Você não é o único! Então, eu não estou louco, não estou!!!

Daniel levantou-se do sofá eufórico, andando de um lado ao outro.
-Como assim, você quer dizer que...
-Eu também me lembro de tudo. As imagens vem na minha cabeça como flashes, mas pensei que estivesse louco por causa das minhas experiências. Mas você, você é a prova viva de que eu não estou pirando!
-Qual foi a última coisa que você se lembra, Daniel?
-Deixe me ver, eu estava na ilha, em 77. Você não estava lá. Jack, Kate e eu fomos até uma vila, eu procurava minha mãe para que ela nos ajudasse a avançar no tempo. Foi então que ela me deu um tiro.
-Meu Deus, sinto muito. Espere. Você disse Jack e Kate? Eles estavam com você?
-Sim eles chegaram em 77 também.
John soltou um sorriso.
-Isso quer dizer que no fim eu consegui convencê-los a voltar para a ilha, de certa forma! Mas e agora, Daniel, afinal de contas, o que está acontecendo?
Daniel foi para um quartinho que ficava no fundo do quintal. Acendeu a luz e pegou o giz. Escreveu cálculos e mais cálculos incompreensíveis na lousa.
-Então não deu certo. Eu elaborei um plano para realinhar o tempo, mas pelo visto, as coisas não saíram como eu pensei, vide que estamos em 2004. O certo era estarmos em 2007.
-Daniel, por que só nós dois lembramos do que aconteceu?
-Boa pergunta, John. Espere...você disse que morreu e eu também morri. Só pode ser isso.
-Mas se for pensar assim, e o Boone, a Shannon, Eko, Ana, eles também morreram e nenhum deles me reconheceu no vôo.
-Eles morreram na época certa, antes da confusão toda, antes da roda girar. Além do que, eu morri em 1977, assassinado pela minha própria mãe, coisa que não deveria ter acontecido e você morreu também assassinado, talvez não era para ter sido desse jeito. Agora me ocorreu um pensamento, será que a Charlotte também se lembra de alguma coisa? Ela morreu em 1977, ou seja, na época errada assim como eu. Preciso urgente procurá-la.
-E o que faremos então? O que são esses cálculos?
-São as constantes e variáveis. Devo ter errado em alguma conta. Você disse que tudo o que aconteceu está acontecendo de novo?
-Cada morte, uma a uma.
-Então é isso, talvez não precisamos fazer nada, a ordem natural das coisas está ajeitando tudo no seu lugar. Quem sabe não seja essa a saída, tudo o que ocorreu no passado tem que ocorrer novamente para realinhar o tempo. Talvez meu plano não estivesse totalmente errado!
-Isso quer dizer que nós dois estaremos nessa lista de mortos de qualquer jeito?
-John, infelizmente não teremos escapatória. Se as coisas estão seguindo o mesmo padrão de antes, vai acontecer, quer a gente queira ou não. Se tiver que ser, será.
CONTINUA...

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