segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Fic: Destinos Cruzados- Capítulo 11: Passado x Futuro

1977

Era noite na ilha. Kate estava sentada em um tronco de árvore. Ela estava quieta. A conversa que teve com Jin no dia anterior lhe trouxera lembranças. Ela sentia saudades de Aaron. Durante 3 anos, Kate cuidou do menino como se fosse sua mãe. “Onde ele estaria agora?” “O que estaria fazendo”, pensava.

Aaron era muito ligado a ela, quando Kate o pegou para criar, ele era um bebê de colo. Ela não fazia ideia de como era ser mãe, não sabia nem trocar fraldas direito, teve que aprender tudo na marra. Mas ela não se queixava, foi uma das melhores experiências de vida que teve.

Quando surgiam problemas, como febres, cólicas noturnas e outras coisas típicas de qualquer bebê, recorria a Cassidy. Ela foi bastante amiga, alem do mais, sabia do segredo de que ele não era seu filho.

Ficou apreensiva só de pensar na reação de Aaron quando acordasse e ela não estivesse por perto. Sua decisão foi radical, deixá-lo na casa da avó sem ao menos lhe contar a verdade antes, mas imaginava que apesar de drástica, tal atitude seria melhor para ambos, assim tanto ela quanto ele não sofreriam na hora do adeus. Se ele a olhasse com aqueles olhinhos de criança inocente, ela jamais teria coragem de abandoná-lo.

Kate tinha esperanças de que com o tempo o menino se acostumasse com a avó e a esquecesse aos poucos, até nem se lembrar direito dela. Chorava ao pensar nisso, mas tinha que ser desse jeito. Ela não tinha o direito de privá-lo de sua verdadeira família, o menino não era um objeto ou um brinquedo que ela pegaria de alguém e depois devolveria. Sua atitude tinha sido um tanto egoísta, pegá-lo para si porque ela precisava dele, mas não se arrependia, apesar do transtorno que causou.

Uma tristeza invadia o seu coração, dor, aperto, falta do menino. Depois, se deu conta de que estava em 77 e não em 2007. Era uma situação para lá de peculiar, Jack tinha razão em estar preocupado. Aquilo tudo era loucura demais para a cabeça de qualquer um. Se eles não conseguissem consertar o tempo, tudo o que tinham vivido dali a 30 anos, não aconteceria.

Kate estava longe em seus pensamentos quando sentiu alguém cobrindo suas costas com um cobertor.
-Está um pouco frio aqui fora, é melhor se aquecer.
Jack notou que ela estava triste, por isso, nem tentou puxar conversa para não aborrecê-la. Apenas sentou-se ao seu lado e segurou suas mãos delicadamente. Ficou ali parado, quieto, mas sua presença indicava que ele estava ao lado dela, a confortando em uma hora difícil.

Todos estavam muito cansados de tudo aquilo, tanta luta, perdas, esforço para ficarem presos no tempo sem ao menos saberem o que fazer? A cada dia, a esperança minava, a paciência se esgotava e dava lugar a um sentimento de impotência. Queriam sair dali, gritavam por dentro, mas não faziam ideia de como consertar o tempo.

2004

Locke, Faraday e Charlotte tomaram uma decisão: iriam juntar os sobreviventes do vôo 815 para explicarem suas descobertas. É claro que não seria tarefa fácil, ninguém iria comparecer em um local atendendo um chamado de 3 estranhos.

Eles queriam entender o porquê de tudo isso estar acontecendo, por mais que tivessem pensado e discutido o assunto por dias, não chegaram a uma conclusão. Quem sabe, com todos reunidos, poderiam traçar um plano que mudasse o futuro deles. Locke pesquisou o paradeiro de cada um e bolou uma mentira que os levasse para o mesmo local.

Quando Jack estava saindo do hospital, Locke apareceu para ele, desesperado, dizendo que tinha um filho que acabara de ser baleado e precisava de cuidados médicos, mas que não podia ser levado ao hospital para não ter encrencas com a polícia. Jack resolveu ajudá-lo, seguindo Locke até um galpão. Chegando lá, ele fechou a porta, deixando Jack sem saber onde estava, achando que tinha sido seqüestrado.

No caso de Kate, descobriu o seu paradeiro quando em outro dia, havia seguido Jack e ficado de sentinela no carro quando viu Kate abrir a porta para ele.

Locke foi até o hotel em que ela estava e disse que sabia de tudo sobre ela e se não o acompanhasse, ele a entregaria para à polícia. Kate não teve outra alternativa a não ser ir com ele para o local.

Jack gritava e batia na porta de aço do galpão, procurando um jeito de fugir dali quando viu que uma outra pessoa também foi deixada no local.
-Kate?
-Jack? O que está fazendo aqui?
-Eu é que te pergunto.
-Um velho careca apareceu no hotel e me chantageou, dizendo que se eu não o acompanhasse, ele me levaria à polícia.
-Que estranho, pois esse mesmo velho me contou uma história que o filho estava ferido e precisava de socorro.
-Jack, será que foi o Ed, o agente que me persegue? Será que ele armou essa cilada para a gente?

Sawyer estava em um bar. Bebia e dava umas tragadas no cigarro quando foi abordado.
-Eu sei onde está o cara que você procura. Vou te levar até ele. Me acompanhe.

Kate e Jack observavam cada pedaço do galpão, tinham que fugir daquele lugar, quando ouviram um barulho mais adiante: outra pessoa entrou no recinto.
-Sawyer?
-Ora ora, vejam só se não é a linda sardenta!
Jack imediatamente olhou para ele com cara feia.
-Quem é esse cara, você o conhece?
-Conhece? E como ela me conhece, diria que ela desfrutou cada pedacinho disso aqui.
Sawyer sorria de um jeito malicioso e olhava para Kate. Ela ficou totalmente sem graça e desconfortável com a situação.
-Jack, vamos conversar.

Os dois se afastaram de Sawyer. O loiro observava a conversa de longe, curioso, mas pelo jeito que eles gesticulavam, provavelmente estavam brigando.
-Jack, me escuta, eu conheci esse cara em um bar, muito antes de te conhecer, depois nunca mais vi a cara dele.
-Não sei não, Kate, pelo jeito que ele te olha, me parece que vocês se conhecem muito bem! Aliás, não digo nada se não foram vocês dois que me armaram essa, ele é da sua laia pelo visto. O que é hein Kate, me conta, ele é seu parceiro?
-Assim você está me ofendendo! Confia em mim, foi só uma vez que eu saí com ele! Quer saber,não te devo explicação nenhuma de quem eu saía antes, isso é problema meu!
-Como é que eu vou acreditar em você, se nem te conheço, não sei nada de sua vida?
-Aé? E onde é que foi parar o “Kate, não importa o que você fez, eu não quero saber, o que importa é o que você é agora”? Cadê Jack, essas foram as suas palavras!
-Eu pensei que te conhecesse, mas pelo visto, eu estava enganado.

Nesse momento, mais uma pessoa chega no galpão. Jack interrompe a briga com Kate e pergunta:
-E você, como te convenceram a vir para cá?
-Minha mulher. Moça ruiva me encontrou na comunidade coreana. Informações sobre a minha mulher. Sun, onde ela está?
Jin falava pausadamente e sem formular as frases direito, não era fluente em inglês ainda.
-E quanto a mim, xerife, não vai me perguntar por que vim aqui? - Sawyer falava de um jeito sarcástico para Jack.
Ele somente olhou para a cara do loiro, estava nervoso e morrendo de ciúmes de Kate. Jack foi para um outro canto, se afastando dos demais. Kate percebeu que ele tinha ficado furioso. Ela estava de cabeça baixa, quando Sawyer se aproximou:
-Hei baby, você sumiu, nunca mais nos vimos...Fiquei com saudades, sabia? Afinal, não é todo o dia que eu encontro uma garota como você, capaz de seduzir e enlouquecer qualquer homem.
-Cala a boca, me deixa em paz!
-Vai posar de boa moça é? Somos iguais, não adianta negar.

Um confuso Hurley entra no local.
-Mas que merda é essa?
-Sei lá, balofo, bem vindo ao clube.
-Dude, ô ô. Isso é pegadinha? Ou será um desses realities shows malucos da TV? Espera, nós fomos tipo, seqüestrados?
-Ninguém sabe de nada. – Kate falou em tom aflito.
-O meu Deus, tomara que não seja um serial killer que nem o Jigsaw!
-Cala a boca! Por que será que todo gordo fala um monte de bobagens?

Sayid chega nesse instante.
-Agora entendi tudo, só me faltava essa! Fomos seqüestrados por terroristas! – Sawyer olhava com desdém para o iraquiano.
-Quem é você? O que sabe sobre Nadia? – Sayid o pegou pelo braço, quase torcendo.
-Sei nada sobre essa daí, o Muhammed, me solta!
Sawyer mal os conhecia e já tinha botado apelido em todos ali.

Jin estava parado em um canto quando ele a viu. Sun entrou no galpão e ficou branca ao revê-lo.
-Sun?
-Jin, foi você que armou isso?
-Armei o que? Uma moça veio ao meu encontro e me disse que eu encontraria a minha esposa.
-Pois eu vim até aqui porque disseram que meu pai corria perigo de vida, pensei que fosse algum negócio sujo dele com um cliente americano!
Jin correu para abraçá-la e então se deu conta de que ela estava com barriga um tanto saliente. Ele ficou pasmo ao notá-la.
-Eu sei que aqui não é hora e nem lugar para discutirmos isso, mas antes que me pergunte, sim, estou esperando um filho seu.
O coreano não pode conter a emoção, sorriu e deu um abraço terno na esposa.
-Óh, que comovente, parece um filme de Ang Lee bem diante dos meus olhos! Mas que porra que eu vim fazer aqui? – Sawyer começava a ficar impaciente.

Kate estava de cabeça baixa quando observou a moça que acabara de entrar ali.
-Claire? Espere aí, você por aqui também? Que brincadeira é essa?
-Você conhece essa moça também? – Jack começou a achar tudo muito estranho.
-Kate, eu é que te pergunto, o que você faz aqui? – Claire estava surpresa.
-Jack, eu fiz o parto dessa moça.
-Você o que?
-Foi uma emergência, ela estava na rua e eu passava de carro bem na hora. Fizemos o parto ao ar livre. Mas Claire, por que você veio?
-Uma mulher ruiva e um rapaz disseram que estavam interessados em adotar o meu filho. Me deram esse endereço, pensei que fosse o local de trabalho/empresa deles.

-Boa tarde. Onde está o Sr Locke? Sou o Michael, vim aqui conversar sobre o orçamento da reforma que ele pretende fazer na empresa dele.
Todos o olhavam com cara de interrogação.
-O que foi?
-Algum engraçadinho resolveu brincar com nossas vidas e nos confinou aqui. Só não entendo a razão disso tudo. – Sayid explicava a confusão para Michael.
-Pois vocês vão entender agora mesmo.

Finalmente Locke, Faraday e Charlotte entraram. Todos olhavam sem entender nada. Eles começaram a explicar tudo o que se sucedeu. Locke contou sobre o vôo 815, todos ficaram surpresos ao saberem que estavam no mesmo avião. Falou sobre a ilha, resumiu os acontecimentos de lá até que chegou no momento em que contou sobre sua morte e o fato de ter acordado de novo no vôo.
-Mas isso é ridículo! Não faz o menor sentido! – Jack estava inquieto ao ouvir toda a explicação de John.
-Acha mesmo Jack? Como é que você explica o fato de todas as mortes que aconteceram antes estarem ocorrendo tudo de novo?
-Primeiramente, pode ser invenção sua, você pode ter lido sobre a morte dessas pessoas no jornal e ter criado todo esse passado para elas.
-E como se explica o fato de que as pessoas que morreram nos últimos meses, todas eram passageiras do nosso vôo?
-Coincidência. Todo o mundo está propenso a morrer, você soube dessas mortes porque essas pessoas moram aqui em LA. Quem te garante que outros vôos em que você já viajou também não houve mortes?
-Eu acredito nele. Digo mais, tudo isso pode ser culpa minha. Foi por isso que ele me chamou. Ele disse que eu tinha que vir aqui, ele sabia que eu era uma pessoa especial. Então era isso, foi por causa dos números, não foi? – Hurley começava a elaborar um monte de teorias na cabeça.
-Para mim já chega desse teatro de malucos, eu vou cair fora!
-James?
Sawyer sentiu um arrepio, como aquele careca sabia o seu verdadeiro nome?
-Seu filho da mãe, quem raios é você?
Ele pegou John pelo colarinho. John indicou-lhe um envelope.
-Tudo bem, pode ir embora. Mas eu não menti para você, dentro do envelope tem informações da pessoa que você procura.
Sawyer pegou o envelope e saiu de lá enfezado. Chegou em casa e abriu. Retirou uma foto, com endereço e nome do verdadeiro Sawyer atrás. Assim como da 1ª vez, Locke o incentivou indiretamente a matar o seu pai.

No galpão...

-Tudo o que aconteceu vai acontecer de novo. Podem escrever.
Depois de horas com teorias, Daniel, John e Charlotte não conseguiram convencê-los de que falavam a verdade.
-Eu vou embora, já chega disso tudo, não acredito em uma palavra.
-Jack, eu não estou surpreso, sabia que você não iria acreditar. Mas o que me deixa mais tranqüilo é que um dia você vai acreditar, tenho certeza disso.
John abriu um sorriso para ele. Jack o olhou de forma estranha, pensou estar diante de um louco ou esquizofrênico.
-Espera Jack, eu vou com você!
-Não precisa.
Kate saiu do galpão logo após Jack.
-Jack, por favor, vamos conversar direito.
-Já conversamos, Kate. Acho melhor não nos vermos mais.
-Você vai jogar tudo o que vivemos por causa que não consegue suportar o meu passado?
-Kate, eu já passei por isso antes, não quero mais ficar com alguém em que eu não possa confiar.
Ele foi embora, deixando Kate sozinha.
Jin e Sun saíram dali e foram conversar. Tiveram uma conversa franca, Jin contou o que fazia para o pai dela e ela lhe contou tudo, sobre a traição, as aulas de Inglês, o plano da fuga. Jin pediu um tempo para absorver toda a verdade. Horas depois, ele falou novamente com ela. Decidiu perdoá-la. Os dois reataram.

Sayid saiu de lá com a pulga atrás da orelha. Já tinha visto muita gente mentir e aqueles lunáticos pareciam dizer a verdade, o que não fazia qualquer sentido no momento para ele.

Michael ficou impressionado com a história, mas tinha problemas demais com o seu filho para perder tempo pensando em teorias de doidos desconhecidos.

Claire ia embora quando Kate lhe ofereceu uma carona.
-Quer dizer que você resolveu colocar o seu bebê para a adoção? Não se preocupe, não estou te julgando, foi só uma pergunta.
-Vou sim. Eu estou sozinha, o pai dele me deixou quando eu estava com um barrigão, não agüentou a barra. Não tenho condições de criá-lo.
-E você não tem mais ninguém, família?
-Minha mãe mora na Austrália, ela está em coma há meses. Minha tia está lá cuidando dela, eu nem quis contar sobre a minha gravidez para ela. Mal conheci meu pai, sei que ele chegou a pagar as despesas do hospital da minha mãe, mas depois minha tia disse que não soube mais nada dele.
-Sinto muito, Claire.
-Chegamos, minha casa é aquela ali.
-O bebê deve estar grandão já.
-Ele está sim. Você quer vê-lo?
-Eu não sei. Ah, quer saber, posso dar uma olhadinha nele sim, quem sabe eu me acalmo um pouco.
Kate acompanhou Claire. A loira mostrou Aaron e fez questão que ela o pegasse no colo.
-Não, eu não levo jeito.
-Pega, pode ficar tranqüila.
Kate pegou Aaron. A emoção foi grande, sentir aquele ser pequenino se mexendo em seus braços. Ele a olhava, prestando atenção. Suas mãozinhas macias alcançaram a corrente que ela usava, Aaron deu um sorriso gostoso.
-Ele é tão lindo!
-E parece que gostou de você, olha só o sorriso dele!
-Claire, você vai mesmo ter coragem de deixar essa coisinha tão fofa?
-Às vezes eu penso que não, principalmente quando estou amamentando ou quando ele dorme no meu colo. Mas Kate, tenho que pensar racionalmente, ele não terá um bom futuro ao meu lado, não tenho como criá-lo.
-É uma pena, vocês dois ficam lindos juntos. Tenho que ir agora. Boa sorte para você.
-Kate, mais uma vez obrigada por tudo. Acho que você foi um anjo da guarda que Deus colocou no meu caminho. Ah, e não fique chateada, os homens são assim mesmo.
-Do que você está falando?
-Do rapaz moreno que estava lá, ele é seu namorado, não é?
-Eu nem sei mais o que ele é depois da briga que tivemos hoje.
-Não esquenta a cabeça, vou torcer para vocês se acertarem.
-Tá legal. Adeus Claire. Até algum dia!

No galpão...

-Sinto muito, John, não é fácil explicar essas teorias complicadas para leigos.
-Tudo bem, Daniel. Parece que só nós 3 estamos interessados em resolver o enigma.
-É como eu te disse antes, talvez não possamos mudar. Quer dizer, é como na matemática, temos variáveis, mas temos constantes. Só temos o poder de trabalhar com as variáveis.
-É caro Daniel, as constantes ficam por conta do destino.
CONTINUA...

Nenhum comentário: