Capítulo 5
Algumas semanas depois...
-Bernard, eu nem sei como te agradecer. Obrigado, obrigado mesmo por cuidar de mim, por me salvar.
-Na verdade quem te salvou de fato foi o Hurley, Jack.
-Acredito que foram ambos, você e ele. Se você e Rose não tivessem me trazido até aqui e prestado os primeiros socorros, Hurley não teria a oportunidade de me curar.
-Foi um esforço coletivo. – Rose entrou na conversa. – Não se esqueça que Kate também teve grande parcela de culpa em sua recuperação.
Jack deu um sorriso tímido e disse:
-Kate é a melhor enfermeira que já conheci. Se não fosse por ela, não teria conseguido engolir nenhuma colher de sopa.
-E cá entre nós, você não teria motivos para querer ficar bom em tão curto espaço de tempo. – Bernard deu uma piscadela, deixando Jack envergonhado pela conversa. Tanto ele como Kate ficavam extremamente sem graça quando alguém se referia ao relacionamento dos dois.
Kate e Jack estavam se preparando para deixar a cabana de Rose e Bernard. Eles iriam morar em uma das casas da antiga vila construída pela Dharma e posteriormente ocupada pelos outros e que agora se encontrava quase abandonada, exceto pelo fato de que Ben, Hurley e Des estarem morando por lá. Agora que Jack estava mais forte, eles decidiram se mudar, já tinham incomodado Rose e Bernard por um tempo, além do que, a cabana era pequena e seria desagradável abusar da hospitalidade do casal. Na vila, estariam mais confortáveis, lá havia cama, chuveiro água encanada, seria mais saudável para Jack. Ele se sentia culpado de certa forma por privar Kate de uma vida fora da ilha. Jack sabia que ela não gostava deste lugar e que ela nem queria ter voltado. Ele era a razão que a prendia na ilha, embora ela nunca tenha jogado isso na cara dele ou lhe cobrado nada em troca. Mas no fundo, ele se sentia mal pelo sacrifício dela em abrir mão de tudo; desta maneira, o mínimo que ele poderia fazer era tornar a experiência de viver na selva o menos dramática possível.
Enquanto Jack conversava com Bernard, Kate se afastou da cabana com o pretexto de apanhar umas frutas e água para a viagem; na verdade, ela não estava se sentindo bem. Aliás, nesta última semana em particular, Kate não estava se alimentando direito. Sentia-se enjoada algumas vezes pelo cheiro da comida. E todos os dias pela manhã o seu estômago parecia revirar. Kate abaixou-se na beira do rio para completar as garrafas d’água. De repente tudo girou. Completamente tonta, Kate sentou-se na grama, mas não conseguiu segurar e automaticamente vomitou. Depois encostou o corpo em uma pedra, suando frio e buscando ar. Kate deu um suspiro e procurou se acalmar, indo para o riacho e molhando um pouco as mãos para jogar água no rosto. Por sorte, a vertigem passou e ela ficou quieta descansando.
Ela não havia contado para ninguém sobre o seu estado de saúde, principalmente para Jack. A última coisa que ela queria era vê-lo preocupado. Ele não estava 100% recuperado e do jeito que ele é, se soubesse que algo de errado estava acontecendo com ela, deixaria de cuidar de si mesmo e não descansaria enquanto não descobrisse o que ela tinha. Kate procurava esconder o seu mal estar, mas havia horas em que era difícil.
De volta à cabana, Kate encontrou Rose estendendo roupas no varal improvisado.
-Hei.
Ela deu um sorriso leve e já ia se dirigindo à porta quando Rose a chamou.
-Kate.
-Sim?
-Venha cá, minha querida, preciso conversar contigo.
Kate ergueu a sobrancelha, estranhando o tom sério que Rose empregava.
-Algum problema, Rose?
-Algum problema, Kate?
-Eu não estou te entendendo...
-Você está se sentindo bem?
-Claro, por que?
-Estou te achando tão pálida.
-Estou bem, Rose, só estou preocupada com a nossa caminhada. Estou com medo de que Jack se esforce demais.
Rose chegou mais perto, falando baixo para ninguém ouvir:
-Não é de hoje que te vejo desse jeito, você não está bem. Pode confiar em mim, não vou dizer nada para o Jack e nem mesmo para Bernard.
Kate olhava para Rose hesitantemente. Não estava mais aguentando esconder, precisava desabafar com alguém, mesmo porque ela se sentia confusa e não tinha certeza se suas suspeitas estavam corretas. Mas o medo era maior e ela simplesmente não conseguiu dizer a verdade.
-Não é nada, Rose, é apenas cansaço.
-Kate...
Rose a arrastou para um canto afastado da casa e a fez sentar-se ao seu lado.
-Já te disse, Rose, está tudo ok.
-Eu sou mulher, Kate. Eu sei o que deve estar acontecendo. Você diz uma coisa, mas os seus olhos me dizem outra. Você está aflita, querida, não tenha medo.
Rose a olhava com compreensão e usava uma didática tão eficiente que foi impossível continuar ocultando-lhe a verdade. Kate acabou abrindo o seu coração:
-Eu não tenho certeza, mas acho que...eu...
-Está grávida. – Rose resolveu completar a sentença, já que Kate não conseguia dizer.
-Pensei que não pudesse ter filhos, já me descuidei outras vezes e nada aconteceu. Se soubesse, teria ido embora naquele avião. Ou então, nem teria voltado à ilha, se bem que neste caso, não daria para prever porque aconteceu um dia antes de nós regressarmos...Só pode ser uma peça que o destino nos pregou! Eu e Jack moramos juntos por quase dois anos lá fora e justamente quando não planejamos nada, vem essa surpresa!
Kate colocava as mãos na cabeça, quase chorando de desespero.
-Calma Kate, não vai adiantar nada ficar nervosa desse jeito. Tenha fé, tudo acontece por uma razão. As coisas vão se resolver, pode acreditar. O Jack é um homem bom, tenho certeza que ele vai encontrar uma saída.
-Não conte nada para ele, Rose. Não quero que ele saiba ainda.
-Prometo que não direi para ninguém e vou cumprir, embora eu ache que você deveria contar para ele sim. É peso demais para você carregar sobre seus ombros sozinha.
-Eu vou contar, mesmo porque daqui a algum tempo ele vai acabar descobrindo, Jack é esperto e é médico. Mas antes, eu preciso de um tempo.
-Está certo, se você prefere assim...Mas Kate, se precisar de ajuda, estou aqui.
-Obrigada, Rose!
Kate a abraçou com carinho. Estava grata por toda a bondade daquela senhora que os acolheu e amparou com tanto esmero. Rose proferia suas palavras de maneira tão serena que fazia com que Kate acreditasse que tudo daria certo.
Continua…
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