quinta-feira, 2 de junho de 2011

Fic: Her heart was in the right place - Cap 2

Capítulo 2



Kate nunca tinha sentido tamanha dor. Sentia-se impotente. Depois de tanto esforço para encontrá-lo, ela conseguiu achar Jack sem vida caído sobre a grama. Culpava a si mesma por não ter chegado ao penhasco a tempo de atirar no falso Locke antes que a coisa maligna golpeasse Jack com a facada. Culpava Ben, Hurley e Desmond por tê-lo deixado morrer sozinho, que espécie de amigos eles eram? Lamentava por sequer ter passado os últimos segundos da vida dele ao seu lado. Ela teria pelo menos segurado sua mão e lhe dito mais uma vez que o amava. E ele teria visto o quão cabeça-dura ela era por ter desobedecido às ordens dele como de praxe. Na certa, ficaria uma fera com ela por ter feito a loucura de não embarcar naquele avião.


Kate estava tão mergulhada em sua tristeza que nem percebeu que tinha companhia até que ouviu gritos pela floresta:

-Vincent!

A sardenta olhou ao redor e deu de cara com o cão labrador, que cheirava as suas vestes. E então, duas figuras conhecidas a observaram: Rose e Bernard.

-Kate?

Ambos exclamaram ao mesmo tempo, mas decidiram deixar os questionamentos para depois ao notarem o corpo de Jack. Imediatamente, Bernard se aproximou, tentando examiná-lo.

-Ele morreu, Bernard...

Kate balbuciava entre lágrimas. Mesmo assim, o dentista resolveu tentar uma massagem cardíaca.

-Faz muito tempo que você o encontrou?

-Não. Mas eu não sei há quanto tempo ele está aqui.

Bernard insistia e quando estava prestes a desistir, encostou o ouvido no peito de Jack e pareceu escutar um fraco batimento. Com os dedos, tocou a aorta para se certificar e inclinou o corpo para perto do rosto do doutor, notando sua respiração quase nula.

-Está vivo!

-O que?

Kate abriu um sorriso diante da declaração de Bernard.

-Ele está vivo, mas não creio que por muito tempo. Perdeu sangue demais e o corte foi bem profundo, talvez tenha atingido o fígado. Se isso aconteceu...

-Você pode salvá-lo, Bernard?

-Sinto muito, Kate, sou apenas um dentista. Se algum órgão vital foi perfurado, não há nada que possamos fazer.

-E se o levarmos para casa? – Rose sugeriu ao marido.

-Como iremos transportá-lo, querida? Do jeito que ele está debilitado, qualquer movimento pode ser muito arriscado.

-Mas é melhor que não fazermos nada, certo?

-A não ser que...já sei, podemos pegar aquela tábua que temos e colocá-lo por cima, como se fosse uma maca rudimentar. Eu vou buscar correndo, já volto!

Bernard saiu em disparada e Rose se aproximou de Kate, colocando as mãos em seu ombro com a intenção de confortá-la.

-Vamos fazer o possível para tentar salvá-lo, Kate. Eu avisei que vocês se arriscavam demais, cedo ou tarde algo assim iria acabar acontecendo. Tenho um apreço muito grande pelo Jack porque logo quando caímos aqui nesta ilha, ele me salvou. Quem sabe agora eu possa retribuir, ajudando a salvá-lo?


Apesar de toda a calma do mundo, Rose não conseguia aliviar o coração de Kate. Bernard voltou depressa e os três moveram cuidadosamente o corpo de Jack para a maca improvisada. Caminharam devagar, por sorte a cabana do casal ficava perto dali. Quando chegaram, Rose resolveu esquentar a água para que Bernard pudesse esterilizar as mãos para examinar Jack detalhadamente. O senhor se aproximou de Jack e analisou a situação.

-E então, Bernard?

Kate estava aflita, mal se agüentando ao ver a expressão séria do dentista.

-Por muito pouco o corte não atingiu o fígado ou outros órgãos vitais, mas ele continua perdendo muito sangue, não vai sobreviver caso não receba uma transfusão.

-Se ele precisa de sangue, eu posso doar. Temos o mesmo tipo, O negativo. – Kate afirmou esperançosa.

-Está brincando? – Rose parecia surpresa.

-Você não aparenta estar muito forte, Kate, doar sangue não é tão simples quando a pessoa está debilitada, como é o seu caso.

-Estou bem, Bernard!

-Você está pálida, Kate. E esse seu ferimento no ombro?

-Esse ferimento não é nada comparado à situação de Jack. Por favor, estamos perdendo tempo, temos que salvá-lo!

Percebendo que ela se mostrava irredutível, mesmo contrariado, Bernard resolveu aceitar a oferta. Antes, iria tratar a ferida de Jack, limpar, suturar e prestar os primeiros socorros.

-O ideal era fazer alguns exames para saber se está tudo bem, se nada muito sério foi comprometido, mas...bem, a única coisa que nos resta neste lugar é cuidar superficialmente desse corte.

Rose o auxiliava, fazendo às vezes de enfermeira. Como moravam há tempos naquele lugar, alguns “instrumentos” improvisados já se encontravam à disposição deles, tais como os ouriços do mar que serviam como agulhas (as quais Rose costurava as roupas gastas pelo tempo), vasilhas e copos feitos com argila, os panos feitos a partir de trapos velhos...


Jack se mantinha desacordado. Bernard era cuidadoso, apesar do nervosismo da situação, ele era o mais próximo de um médico que eles poderiam ter ali. Após o procedimento, restava a todos esperar. Kate estava sem cor, os lábios esbranquiçados conferiam-lhe uma aparência debilitada e o fato de doar sangue a deixou completamente enfraquecida. Seu corpo estava no limite e a muito custo Rose a convenceu a se alimentar e dormir. Seu sono não era tranqüilo, a qualquer sinal mínimo de barulho, ela se levantava em um sobressalto.


No dia seguinte, o estado de Jack continuava grave. Kate tentava demonstrar força, mas havia horas que desabava em um choro sentido, principalmente quando observava o rosto abatido de Jack.

-Querida, beba isso, vai te fazer bem.

-Obrigada, Rose, não estou com vontade.

-Kate, você precisa cuidar de si mesma para ter resistência para cuidar dele.

Mesmo desalentada, Kate aceitou a xícara de chá.

-Veja pelo lado positivo, ele está vivo. – Bernard acrescentou. –Agora vamos tratar dos curativos de seu machucado. A última coisa que precisamos é ter uma pessoa a mais com infecção.

-Obrigada, Bernard, por tudo. Eu...não sei como te agradecer.

-Não precisa me agradecer, Kate. A situação de Jack é incerta, fiz o que estava ao meu alcance. Vamos torcer para que ele consiga resistir, as próximas horas serão cruciais.


No entanto, no decorrer do dia, o estado de Jack piorou. Ele suava e a pele ardente indicava que estava com febre. Bernard estava na cozinha de sua cabana quando pensou ter ouvido murmúrios. Rapidamente, correu em direção a Jack.

-Essa não!

Bernard olhava com pesar para Rose enquanto sua mão direita cobria a testa do médico.

-O que está acontecendo? – Kate se aproximou ao ver os dois conversando diante de Jack.

-Ele está com febre. Se por um acaso tiver com infecção, do jeito fraco que está e sem remédio, não vai resistir. Sinto muito em te dizer isso.

Kate se ajoelhou ao lado do corpo febril de Jack e prontamente se dispôs a colocar o pano molhado com água fria em sua testa, tocando gentilmente o seu rosto e dizendo baixinho perto de seu ouvido:

-Está tudo bem, Jack. Estou aqui.


O rosto dele estava contorcido de dor. Aquela noite seria de vigília. Os três se revezaram em turnos, velando Jack. Por um momento, ele gemeu por conta da febre alta, mas não aparentava ter consciência. Kate era a enfermeira mais aplicada, Rose e Bernard às vezes tinham que lhe dar bronca para que ela descansasse. Durante o turno de Bernard, quando o dentista levantou a camiseta de Jack para averiguar o corte na lateral, notou que os pontos estavam com pus, praticamente infeccionados, apesar de todo o seu esforço em tratar da região com os curativos. A área apresentava uma cor avermelhada. Bernard estava começando a entrar em desespero, já não sabia mais o que fazer para salvar Jack. Era nítido que ele precisaria de sérios cuidados médicos ou até mesmo cirurgia. A facada tinha lhe atingido em cheio. Bernard previu que a qualquer momento Jack não mais agüentaria e iria morrer, diante das condições precárias de atendimento que eram possíveis na ilha.



Continua...

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