quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sobre um amigo

Registrei durante anos muitos acontecimentos, mas talvez muita coisa tenha sido “esquecida”. Por mais que se queira seguir em frente, às vezes a vida nos faz lembrar de alguns momentos que estavam guardados dentro de nós, no fundo da memória. Isto é sobre você, meu amigo. Justo a pessoa mais importante não poderia não ser mencionada. Foram 4 anos difíceis, mas suportáveis graças a uma pessoa que não se importou em se anular e fazer sua vida girar em torno de outra pessoa. Éramos tão jovens e tão puros! Que saudades! Não havia malícia, éramos tão românticos e castos! Sempre acreditei que duraria para sempre e que nunca te esqueceria. Imaginava que no meu futuro com certeza você estaria presente. Como não poderia estar? Tantas lágrimas foram derramadas e enxugadas por ti, sempre tão prestativo e gentil, sempre com o ombro confortável para me apoiar nas horas difíceis.

Quanto desespero, medo e insegurança compatilhamos? Éramos duas pessoas descobrindo a vida, não sabíamos nada e nem metade do que viveríamos, poderíamos imaginar. Não precisava dizer nada que você já entendia que eu não estava legal, que estava triste. Bastava ficarmos em silêncio, eu aos prantos e você somente me abraçava, me consolando. Brincávamos, ríamos, quantas descobertas, quantos problemas ajudamos a solucionar um para o outro? Aliás, você solucionava os meus problemas, com todas as minhas neuroses, você esteve ao meu lado o tempo todo. Como combinávamos, como éramos perfeitos um para o outro! Você me dava segurança.

Os passeios de mãos dadas, a rua, a porta de casa, o prédio. As músicas que curtíamos. A amizade ficando cada vez mais forte, intensa, grande identificação até virar colorida e transformar-se em amor. Um amor diferente, puro, doce. É impossível descrever todos os nossos momentos juntos, pois foram inúmeros. O tempo foi passando e nós fomos crescendo. Novos e mais complicados problemas pessoais foram surgindo, mas mesmo assim você é a lembrança mais linda e forte que tenho daqueles tempos tristes e nebulosos. Eu não teria chegado até aqui sem você, meu caro, meu querido.

Todos diziam que éramos feitos um para o outro e eu concordo. Porém, quatro anos se passaram e a nossa relação se metamorfoseou neste tempo. Eu cresci, você cresceu. De repente, não éramos mais tão doces, tão inocentes e tão puros. Não bastavam mais os passeios de mãos dadas, as conversas existenciais, sentarmos na calçada afagando o cabelo um do outro, os beijos doces, o abraço romântico, deitarmos e olharmos para as estrelas. O tempo passa para todos e ele foi implacável conosco. Não podíamos mais parar no tempo, fingir que nada mudou, agirmos como outrora. Não dava mais para continuarmos tão jovens. Eu precisava tomar novos rumos, precisa seguir em frente, conhecer novas pessoas e desafios e principalmente resolver meus próprios problemas sozinha. A vida me cobrou amadurecer.

Não dava mais para continuar fugindo do meu destino e dos meus problemas. Não era justo comigo e nem com você. Eu não tenho o direito de fazer alguém viver em função de mim. Nossa relação teve que se desfazer, pois estava prejudicando a mim, que não conseguia amadurecer e enfrentar meus problemas sozinha e prejudicando a você, que não cuidava de sua vida porque se ocupava de cuidar da minha.

No início não queria de jeito nenhum aceitar que não dava mais para ficarmos daquele jeito. Sempre acaba, um dia. Infelizmente precisa acabar. Quem você conhece, adulto que mantenha uma amizade forte com o sexo oposto e ao mesmo tempo tem um relacionamento sério com alguém? É muito difícil, ou você é livre e solteira e tem um amigão ou você tem amigos, mas não tão intensos e um parceiro. Isso acontece porque a amizade colorida exige exclusividade e dedicação plena um com o outro. É utópico achar que as coisas duram para sempre.

Sinto muito o que aconteceu com a gente. Sinto saudades. Pensei que não fosse conseguir, mas consegui. Um olhando para o outro, em direções opostas, feito um duelo. Não precisamos dizer muita coisa, já sabíamos o que era para acontecer. Nunca esquecerei deste último momento, não há palavras, não houve naquela hora. Apenas um olhar. A amizade virou amor, o amor virou afeto, respeito, carinho, desejo e...voltou a amizade. Depois a rotina, o tédio e a vida, o destino teve que agir e nos separar. Precisávamos viver novas experiências, o nosso tempo de estarmos juntos havia se esgotado. A Joe (Dawson´s Creek) disse uma coisa muito importante sobre a amizade-amor dela com o Dawson. Ela disse que precisava se descobrir, precisava de fazer isso sozinha. Ela queria e precisava de alguém, de um relacionamento onde ela soubesse exatamente onde ela começa e onde o outro termina. Ela e Dawson eram tão ligados e tão amigos que pareciam ser uma só pessoa e não havia esse limite, essa independência e individualidade, ou seja, não havia o chamado espaço de cada um. Era disso o que ela precisava, ter essa individualidade, de ser ela mesma e de ter alguém diferente ao lado dela, até mesmo para complementar, para acionar experiências.

É importante ter afinidades um com o outro, mas também é necessário ter diferenças, peculariedades de cada um, para que haja uma relação que evolua e não fique no mesmo ponto, na mesmice e rotina. É como peças de um quebra-cabeça: duas peças tem que se encaixar (ter afinidades), mas devem ser diferentes entre si e desta forma chegar a um objetivo. Voltando a nós, senti sua falta. Nos primeiros anos de nosso afastamento, senti muito. Porém, o tempo foi passando. Tivemos até algumas recaídas, nos reencontramos, mas não deu certo, nada faria com que voltássemos a ser o que éramos antes. Não dá para crescer e depois pedir para voltar a ser jovem. Não dá para recuperar a inocência perdida.

Nestes dias senti saudades de você, mas talvez eu tenha ficado tão impressionada e triste porque acima de tudo senti saudades de mim. Senti falta daquela garota que tinha planos e sonhos, que tinha medo, mas também grandes esperanças. Você era perfeito para mim naqueles tempos! Guardo com muito carinho tudo o que vivemos, crescemos juntos e amadurecemos juntos. Doces tempos, doces momentos, doce você, meu melhor amigo, talvez o único e insubstituível amigo que tive na vida. Adeus, meu amigo. Te guardo para sempre no meu coração.










Nenhum comentário: